Toffoli pede investigação de ONG que luta contra corrupção

direitaonline



O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhe ao seu gabinete as investigações em curso no Ministério Público Federal (MPF) sobre o acordo entre a força-tarefa da Operação Lava-Jato e a ONGS ‘Transparência Internacional’ no Brasil. Ele também solicitou o envio dos procedimentos em relação ao acordo de leniência firmado entre o MPF e a holding J&F.

O ministro ainda ordenou que os documentos sejam repassados ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Controladoria-Geral da União (CGU). “Tal providência faz-se necessária especialmente para investigar eventual apropriação indevida de recursos públicos por parte da Transparência Internacional e seus respectivos responsáveis, sejam pessoas públicas ou privadas”, afirmou.

Sem fiscalização
Segundo o ministro, “fatos gravíssimos” não passaram pelo crivo do Poder Judiciário e do TCU. Isso porque o MPF, desde 2014, firmou parceria com a Transparência Internacional, organização não governamental (ONG) sediada em Berlim (Alemanha), para desenvolver ações genericamente apontadas como combate à corrupção.

Em 2017, foi celebrado acordo de leniência entre o MPF e a empresa J&F, posteriormente modificado, no qual foi pactuado o pagamento de R$ 10,3 bilhões a título de ressarcimento, dos quais R$ 8 bilhões destinados a entidades individualmente lesadas e R$ 2,3 bilhões destinados à execução de projetos nas áreas da educação, saúde, meio ambiente, pesquisa e cultura. De acordo com o ministro Toffoli, por acordo com o MPF, a Transparência Internacional ficaria responsável pela gestão dos R$ 2,3 bilhões.

Em comunicados, a Transparência diz que não recebeu nem administrou recursos da multa, e apenas produziu, sem qualquer remuneração, estudos e apresentou recomendações de práticas de governança e transparência.

Recursos públicos
Ele destacou que, no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 568, o STF registrou ser “duvidosa a legalidade de previsão da criação e constituição de fundação privada para gerir recursos derivados de pagamento de multa às autoridades brasileiras, cujo valor, ao ingressar nos cofres públicos da União, tornar-se-ia, igualmente, público, e cuja destinação a uma específica ação governamental dependerá de lei orçamentária editada pelo Congresso Nacional, em conformidade com os princípios da unidade e universalidade orçamentárias”.

Críticas
A Transparência Internacional, ONG que foi alvo de investigação por parte do ministro Dias Toffoli a pedido do deputado federal petista Rui Falcão (PT-SP) nesta quinta-feira (5), tem sido uma crítica contundente das decisões do integrante do STF (Supremo Tribunal Federal). Nos últimos meses, a organização tem apontado que Toffoli proferiu decisões com “fortes evidências” de conflitos de interesses.

Além disso, a Transparência Internacional tem expressado desaprovação em relação às escolhas de Lula (PT) para o Supremo durante seu terceiro mandato, especialmente as nomeações de Cristiano Zanin, que atuou como advogado do petista, e de Flávio Dino, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública.

A ONG defende-se das acusações, alegando que informações inverídicas e distorcidas têm alimentado uma “campanha difamatória contra a Transparência Internacional”. Antes da decisão de Toffoli, a organização mencionou o ministro em um relatório que apontava um aumento no índice de percepção da corrupção no Brasil.

A Transparência Internacional criticou algumas decisões específicas de Toffoli, como a suspensão do pagamento de multa da leniência da J&F. Alegou que o ministro tomou decisões monocráticas “com fortes evidências de conflito de interesses e outras heterodoxias processuais” em casos de corrupção. Destacou também o vínculo familiar, já que a esposa de Toffoli, Roberta Rangel, é advogada do grupo dos irmãos Batista, envolvidos no litígio entre a empresa e a Paper Excellence pelo controle da Eldorado Celulose.

Em um intervalo de pouco mais de dois meses, Toffoli, segundo a Transparência Internacional, anulou provas do acordo de leniência da Odebrecht (rebatizada de “Novonor”) e suspendeu multa de mais de R$ 10 bilhões aplicada ao grupo J&F, dono da JBS. O diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, também criticou a suspensão da multa da leniência da Novonor por Toffoli, classificando-a como o “maior caso de corrupção transnacional da história” em um artigo para o jornal O Globo nesta segunda-feira.

No relatório da semana passada, a ONG apontou negligência do governo Lula no “resgate da autonomia do sistema de Justiça” com as indicações para o STF de Zanin e Dino. O documento faz parte do ranking da ONG que revelou a queda do Brasil para a 104ª posição entre 180 países no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2023, sinalizando desafios e questionamentos sobre a integridade do sistema judicial brasileiro. E veja também: Investimento estrangeiro no Brasil tem queda de US$ 12,6 bilhões no 1º ano do governo Lula. Clique AQUI para ver. (Foto: STF; Fontes: STF; Folha de SP)

Gostou? Compartilhe!
Next Post

Bukele diz que já falou com Lula, mas que tema segurança não foi conversado

Recentemente reeleito presidente de El Salvador nas eleições do último domingo (4.fev.2024), Nayib Bukele revelou ter mantido algumas conversas com o chefe do Executivo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Surpreendentemente, o petista nunca abordou questões relacionadas à segurança pública, uma área vital na política do líder salvadorenho. Bukele, […]