A alteração da perspectiva da nota de crédito do Brasil pela agência Moody’s, anunciada na última sexta-feira, foi interpretada como um revés para o governo Lula. Em editorial contundente publicado nesta semana, o jornal O Estado de S. Paulo afirma que a mudança de “positiva” para “estável” sepulta a esperança de o país recuperar o grau de investimento ainda no atual mandato presidencial. O título é ‘Fim de um delírio‘.
Segundo o veículo, “a manutenção da nota de crédito do Brasil pela Moody’s […] teve gosto amargo para o governo”, já que frustra um dos principais objetivos econômicos do Palácio do Planalto no curto prazo.
Conforme o Estadão, a alteração do panorama significa que a Moody’s não planeja mexer na nota brasileira pelos próximos 18 meses, seja para cima ou para baixo. A publicação pondera que, embora o cenário não seja alarmante, a mudança foi um sinal de que a agência reavaliou de forma mais crítica o ambiente fiscal do país:
“De certa forma, é algo até positivo, pois, para alguns economistas, já existem motivos suficientes para a agência rebaixar a nota de crédito brasileira.”
O editorial recorda que a melhora da perspectiva, em maio de 2024, e a elevação do rating, em outubro, surpreenderam o mercado e foram vistas como benevolentes diante da fragilidade das contas públicas. O jornal aponta que, na tentativa de reconquistar o grau de investimento — perdido em 2015, durante o governo Dilma Rousseff —, o governo Lula recorreu a uma estratégia de convencimento direto com as agências.
Como destaca o Estadão: “Lula, acompanhado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi pessoalmente a Nova York para se reunir com representantes das agências e convencê-los de que o País merecia um voto de confiança.”
Apesar do êxito inicial, a deterioração fiscal e a falta de medidas concretas para conter o crescimento das despesas públicas minaram a credibilidade da equipe econômica. Para o jornal, o governo acabou demonstrando que “não era digno do voto de confiança que recebeu”. Um exemplo apontado foi a proposta de isentar do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil, considerada uma promessa de cunho eleitoral:
“Quem prometia um plano de corte de gastos vigoroso […] entregou uma promessa eleitoreira de isentar de Imposto de Renda da Pessoa Física a trabalhadores que ganhassem até R$ 5 mil mensais.”
O Estadão também menciona o esvaziamento de medidas que buscavam frear despesas, como a revisão do BPC, barradas inclusive por parlamentares da base governista:
“As poucas medidas do pacote […] foram esvaziadas ou rejeitadas pelo Congresso Nacional após um movimento de boicote liderado por parlamentares petistas.”
Para o jornal, esse conjunto de decisões revelou uma inflexão clara no governo: “Foi como um divisor de águas, em que ficou claro que a prioridade do governo, a partir de então, seria a reeleição de Lula.”
O editorial ainda cita uma série de ações recentes que, segundo o veículo, reforçam o viés populista e eleitoral da administração: ampliação do Auxílio Gás, extensão da Tarifa Social de Energia e a criação de uma nova faixa no Minha Casa Minha Vida. Além disso, destaca a tentativa de aumento do IOF como mais um indício da disposição de “gastar e arrecadar mais sem resvalar em reformas estruturais”.
O alerta mais grave do editorial diz respeito ao futuro das contas públicas: “O País mantém a marcha rumo à inviabilização das despesas discricionárias e do arcabouço fiscal já em 2027.”
Esse risco é reconhecido até pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e consta no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) enviado ao Congresso.
O texto termina com tom crítico à retórica usada por Lula para justificar sua gestão e prioridades, encerrando com ironia: “Mas nada disso importa para quem se diz enviado de Deus para levar água ao sertão.”
O editorial do Estadão escancara o ceticismo do mercado e da imprensa especializada diante da condução fiscal do governo, que, para o jornal, escolheu o caminho da expansão de gastos e promessas eleitorais em detrimento do compromisso com o equilíbrio estrutural das finanças públicas. E mais: Carla Zambelli anuncia que deixou o Brasil. Clique AQUI para ver. (Foto: Palácio do Planalto; Fonte: Estadão)