Saiba o que disse Mauro Cid em depoimento à PF

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O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Bolsonaro, negou nesta sexta-feira (7) qualquer intenção de fugir do Brasil ou envolvimento com um pedido de passaporte português em seu nome.

Em depoimento prestado à Polícia Federal (PF) em Brasília, ele afirmou que desconhece qualquer ação nesse sentido e que não mantém contato com o ex-ministro do Turismo Gilson Machado desde o fim do governo Bolsonaro, no final de 2022. As informações são do O Globo e do UOL.

A oitiva de Cid ocorreu após uma operação autorizada por Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que inicialmente previa sua prisão preventiva, mas acabou sendo convertida em busca e apreensão.

A PF apreendeu o celular do militar e vasculhou sua residência. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), a medida se baseou em informações da PF que apontavam indícios de uma tentativa de fuga do país, supostamente articulada com o apoio de Gilson Machado.

A principal suspeita recai sobre uma ligação feita por Machado ao Consulado de Portugal em Recife, em maio deste ano. De acordo com a PF, o ex-ministro teria tentado obter um passaporte europeu em nome de Mauro Cid, o que poderia facilitar sua saída do país e prejudicar o andamento da Ação Penal 2.688, que investiga uma suposta ‘tentativa de golpe de Estado’ envolvendo Bolsonaro, Cid e outras autoridades.

Durante o depoimento, que durou cerca de três horas, Cid foi acompanhado de seu advogado Cezar Bittencourt e reafirmou que nunca pediu a ninguém que intercedesse por ele em consulados estrangeiros.

Ainda segundo a defesa, o militar demonstrou surpresa ao saber do suposto pedido de passaporte feito por Machado, já que, segundo ele, esse tipo de procedimento exige a presença do próprio solicitante para registro fotográfico e coleta de dados biométricos.

A Polícia Federal apura se Gilson Machado, que foi preso na manhã de sexta-feira no Recife, tentou obstruir as investigações.

Ao jornal O Globo, o ex-ministro confirmou ter feito contato com o consulado português por telefone, mas alegou que o assunto era particular e envolvia apenas seu pai. “Estou surpreso. Nunca fui atrás de nada a respeito de Mauro Cid. Tratei do passaporte para o meu pai”, declarou.

A defesa de Cid também informou que ele já havia solicitado cidadania portuguesa em janeiro de 2023 — poucos dias após os ataques golpistas de 8 de janeiro — mas justificou que o pedido se deu pelo fato de sua esposa e filhas já possuírem a cidadania. O próprio militar teria informado ao STF anteriormente que nunca chegou a obter um passaporte português.

Outro ponto investigado são as mensagens atribuídas a Cid divulgadas pela revista Veja, nas quais ele supostamente revelaria detalhes de sua delação premiada por meio de um perfil no Instagram.

Segundo apuração do UOL, o próprio tenente-coronel pediu para falar sobre o tema durante o depoimento. Ele negou ser o autor das mensagens e alegou que o conteúdo divulgado seria uma “montagem”. Afirmou também que nunca utilizou o perfil citado.

Mesmo diante das suspeitas, o acordo de delação premiada firmado por Mauro Cid com a Justiça segue válido. Ele continua obrigado a cumprir as medidas cautelares determinadas pelo STF, como o uso de tornozeleira eletrônica, proibição de uso de redes sociais e recolhimento domiciliar noturno. A colaboração segue condicionada ao cumprimento rigoroso das condições estabelecidas: ele deve dizer a verdade sempre que convocado pelas autoridades, sem omissões ou mentiras.

A Polícia Federal e a PGR também analisaram o recente deslocamento de familiares de Cid aos Estados Unidos como um possível indício de fuga.

A esposa, uma das filhas e os pais do militar embarcaram para os EUA no dia 30 de maio, com retorno programado para 20 de junho. Cid apresentou à PF as passagens de volta e justificou a viagem como uma visita para celebrar o aniversário de 15 anos de uma sobrinha e a formatura de outro parente em Orlando. Outra filha, Giovana, viajou posteriormente, pois estava participando de uma competição de hipismo no Brasil.

Para a Procuradoria, esses elementos reunidos pela PF indicariam uma possível articulação para evasão do país. Em manifestação enviada ao STF, a PGR afirmou que há “elementos sugestivos” de que Machado atuava com o objetivo de “obstruir a instrução da Ação Penal n. 2.688/DF e das demais investigações que seguem em curso”, permitindo a fuga de Cid em um momento próximo do encerramento da fase de instrução do processo.

O tenente-coronel deixou a sede da PF por volta das 13h30 desta sexta-feira, sem ter sua prisão decretada. Foi conduzido para casa por seus advogados, que não deram declarações à imprensa. A defesa reforça que Cid tem colaborado com a Justiça e reitera que ele não tem qualquer intenção. (Foto: STF; Fontes: O Globo; UOL)

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