O governo Lula não gostou da foto de capa do jornal Folha de São Paulo dessa quinta-feira (19). Tanto que Secretaria de Comunicação (Secom) do governo divulgou nota oficial criticando a publicação do veículo que por tantas vezes foi usado, nos últimos quatro anos, como fonte pelos petistas para críticas ao ex-presidente Bolsonaro.
“É lamentável que o jornal Folha de S.Paulo tenha produzido e veiculado uma imagem não jornalística sugerindo violência contra o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no contexto dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Trata-se de uma montagem, por não retratar nenhum momento que tenha acontecido.”
E não foi só o governo. A ABI (Associação Brasileira de Jornalismo), que muito criticou os ‘ataques’ de Bolsonaro à imprensa nos últimos quatro anos, também repudiou o material. O órgão chegou a denunciar o ex-presidente à ONU pelo indulto a Daniel Silveira.
Agora, em texto assinado por Maria Luiza Franco Busse, diretora de Cultura da ABI, e Moacyr Oliveira Filho, diretor de Jornalismo, a capa é classificada de “atentado ao jornalismo”.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) escreveu em seu Twitter que “Ainda que Folha diga que é uma crítica aos atos golpistas, é uma imagem de violência política abominável, contra a democracia e o país. Talvez esta imagem seja aquela que alguns queiram. E que de fatio tentem construir. Cabe à sociedade, incluindo os meios de comunicação, e ao estado, se contrapor e afirmar #democraciasempre”.
No registro da imagem de Fotojornalismo do Presidente da República, sobrepor uma que lembra um tiro no rosto, o que representa? Ainda q a @folha diga q é uma crítica aos atos golpistas, é uma imagem de violência política abominável, contra a democracia e o país.
— Maria do Rosário (@mariadorosario) January 19, 2023
Mas teve quem criticou as críticas. O jornalista Samuel Pancher, do Metrópoles, por exemplo, escreveu que “Quando o Planalto acusa uma jornalista e um veículo de estimularem violência contra o Presidente, coloca um alvo nas costas de ambos. Nota irresponsável e distorcida”.
E também ironizou a ABI: “A Associação Brasileira de imprensa resolveu repudiar… a foto. A nota tem erros de concordância e acusa a Folha de São Paulo de “cumplicidade com golpismo”. Sim, a ABI está atacando a… imprensa”.
Essa nota é um absurdo. A Secom acusa falsamente uma jornalista e um veículo de estimularem a violência.
Não cabe ao Planalto dizer o que é ou não jornalismo.
Vamos esperar as manifestações de repúdio das entidades de classe… pic.twitter.com/IAm2jEOWoh
— Samuel Pancher (@SamPancher) January 19, 2023
A jornalista Madeleine Lacsko escreveu em sua coluna no UOL: “Você pode gostar ou não da foto feita pela Gabriela Biló. Teve gente que achou violenta. Estranhamente, os mais preocupados com isso elogiaram outra foto dela, aquela em que Jair Bolsonaro fazia um sinal de arminha contra a cabeça de Sérgio Moro.”
A repercussão foi tamanha que a autora da foto diz que se sentiu “intimada” a explicar e que ‘aceita o desafio’. “Na foto tem quem veja morte, tem quem veja resistência, só um trincado, tem quem veja um sorriso atrás, o Lula arrumando a gravata. Não vou dizer o que vc tem que ver. Fotojornalismo não é feito pra agradar. Minhas fotos são o espelho do meu olhar. Essa só é a forma como eu vejo o mundo. Você pode ter o seu olhar, discordar do meu, tudo bem, o mundo é plural. Sendo assim, vou ignorar absurdos como “apaga isso”, entre outros hates, especialmente depois do dia 08/01”.
Como eu já previa, o hate veio forte com essa foto do Lula:
– na foto tem quem veja morte, tem quem veja resistência, só um trincado, tem quem veja um sorriso atrás, o Lula arrumando a gravata. Não vou dizer o que vc tem que ver.
– fotojornalismo não é feito pra agradar (+)— Gabriela Biló (@gabrielabilo1) January 18, 2023