Janja chora ao falar do Papa e diz que pontífice ajudou Lula a superar desilusão na prisão

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Rosângela da Silva, a Janja, se emocionou ao falar sobre a relação afetiva construída entre ela, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o papa Francisco, falecido na última segunda-feira (21). Foi em uma entrevista à colunista Mônica Bergamo, da Folha de SP.

A esposa de Lula revelou que precisou conter o choro diversas vezes ao lembrar do carinho do líder da Igreja Católica em um dos períodos mais delicados enfrentados pelo casal. A lembrança mais dura, diz, foi de quando o Lula e o Santo Padre trocaram cartas na época em que o petista estava na prisão.

Janja destacou, em especial, o episódio em que Lula, ainda preso, enfrentava a dor da perda do neto Arthur. “Naquele momento tão doloroso, ele resolveu escrever ao papa”, contou. A resposta de Francisco veio rapidamente, trazendo conforto e esperança em um cenário de luto e solidão.

Em uma das ocasiões em que estiveram juntos, Francisco teria apertado a mão de Janja e dito: “A gente só pode olhar alguém de cima para baixo quando é para ajudá-la a se levantar.” A frase, segundo ela, ficou marcada em sua memória como um gesto de humanidade e empatia que jamais esquecerá.

Janja ressaltou que esse acolhimento por parte do papa teve um papel crucial para que Lula encontrasse forças naquele período sombrio. “Foi algo que o ajudou a seguir em frente”, concluiu

Como vocês receberam a notícia da morte do papa Francisco? Era feriado, então a gente acordou um pouco mais tarde, umas 7h30, 8 horas. Eu sempre deixo o meu telefone [no modo] “não perturbe” à noite. E não vejo as mensagens que chegam. O meu marido se levantou e foi ao banheiro. Eu, ainda na cama, desativei o “não perturbe”.

E começaram a entrar algumas mensagens do AJO [ajudante de ordens]. Eu achei estranho, né, às 7h da manhã? Vi então também uma mensagem da embaixatriz Luciana, esposa do embaixador [do Brasil em Roma, Renato] Mosca [de Souza]. E na hora eu já pensei: “O papa faleceu”.

Levantei rápido, avisei o meu marido e já liguei a televisão para ver as notícias. E um filme foi passando na minha cabeça porque, em fevereiro, eu tive um encontro com ele, bastante emocionante, que ocorreu depois que ele tinha saído do hospital. Nós chegamos a fazer uma celebração pela saúde do papa [no dia 26 de fevereiro, depois que Janja voltou da viagem]. E estávamos acompanhando [as notícias sobre a saúde do pontífice].

Quando, no domingo (20), ele apareceu [na sacada da Basílica de São Pedro] para celebrar a Páscoa, ainda que com muita dificuldade, deu um ânimo vê-lo ali. Ele tinha essa missão ainda a cumprir, e é muito simbólico ele ter partido no domingo da ressurreição.

Vocês estavam em Brasília? Sim. Estávamos na Granja do Torto. A gente se sentou para tomar café [da manhã] e eu não consegui segurar as lágrimas. O meu marido fica olhando para mim porque eu começo a falar e choro. Agora mesmo [na manhã de terça, 22] rezamos pela memória do papa Francisco, e eu já comecei a chorar pensando no tanto que ele vai fazer falta para o mundo, sabe? Porque ele não era só um guia espiritual, um líder da Igreja Católica. Ele era um líder mundial. A palavra de solidariedade de que o mundo precisa hoje em dia estava condensada nas mensagens dele sobre as mulheres, sobre a justiça social, sobre a paz.

Como era o papa no trato pessoal? Para a minha surpresa, antes de a nossa delegação entrar, o padre do cerimonial me chama e diz: “O Santo Padre quer ter uma conversa reservada com a senhora”. Ele já estava bastante debilitado. Tinha acabado de sair de uma crise de bronquite, estava com problema de audição por conta da inflamação. Eu tive que falar bem alto.

A primeira coisa que ele me perguntou foi “como está o meu amigo”? Eu disse “está muito bem, santo padre” [Lula tinha se recuperado de uma cirurgia na cabeça feita em dezembro de 2024]. Agradeci pelas orações. Ele ficou tranquilo. E a gente conversou sobre a minha agenda em Roma. Expliquei que eu tinha trazido o tema da Aliança Global Contra a Fome para mim, ele me deu apoio. [Disse] “Precisamos que as mulheres estejam dentro dos lugares, precisamos que as mulheres falem”.

Foi quando ele me deu essa escultura de metal que mostra uma pessoa ajudando outra a se erguer [do chão] e me disse: “Todos os homens deviam se olhar nos olhos porque todos somos iguais. O único momento em que uma pessoa pode olhar a outra de cima para baixo é quando estende a mão para ela se reerguer”. Ele segurava a minha mão neste momento. Vou guardar para sempre em minha memória.

O presidente Lula é muito religioso? Eu soube que ele inclusive se confessa eventualmente, um rito que nem todos os católicos seguem hoje em dia. Ele não frequenta a igreja sistematicamente, mas faz as coisas interiores, respeita muito os ritos. Ele tem uma formação cristã forte, fazia cursilho. O próprio PT nasceu junto com o Movimento Pastoral Eclesial de Base. São coisas que nascem, caminham e crescem juntas. A religiosidade dele vem muito desse movimento que era também político naquele momento.

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