De janeiro de 2017 a março de 2022, o Brasil recebeu 325.763 venezuelanos que deixam o país fugindo da fome e em busca de emprego. A grande maioria é recebida pela Operação Acolhida, realizada pelo Exército Brasileiro, que promove a ‘interiorização’ dessa população e leva os imigrantes a buscar oportunidades de trabalho em outras regiões brasileiras visando diminuir a pressão sobre os serviços públicos do estado que os recepciona. Em média, desde o início da operação, mais de 1,5 mil venezuelanos foram ‘interiorizados’ por mês.
A maioria das pessoas que passaram por essa etapa da operação foi transferida aos estados do Sul: 12.651 para o Paraná, 12.217 para Santa Catarina e 10.578 para o Rio Grande do Sul. Até agora, 810 cidades do país receberam imigrantes ‘interiorizados’.
O Brasil é o quinto destino mais procurado por esses migrantes para viver. Em primeiro lugar está a Colômbia, com 1.842.390 refugiados venezuelanos; seguida pelo Peru, com 1.286.464. Equador (513.903) e Chile (448.138) ocupam a terceira e quarta posição, respectivamente. Os dados são da plataforma R4V, que reúne informações do sistema das Nações Unidas e do governo brasileiro.
A falta ou a precariedade de documentos é um dos problemas que a Operação Acolhida enfrenta na hora de registrar a entrada de venezuelanos no país. Segundo o delegado da Polícia Federal de Pacaraima, Luís Henrique Alves, da Costa, há um número expressivo de pessoas sem documentação que chegam ali.
O governo brasileiro tem facilitado a entrada desses imigrantes e a legalização da permanência deles. “Mesmo aqueles que entraram durante o período de fechamento de fronteiras hoje podem procurar uma unidade da Polícia Federal e se regularizar”, afirma Lígia Lucindo, diretora do Departamento de Migração do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Entretanto, um outro problema é ainda mais preocupante: a entrada de crianças e adolescentes desacompanhados. Em 2021, cerca de 5,2 mil crianças chegaram ao Brasil sem documentos ou sem o responsável legal, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Desde 2019, o Unicef identificou um aumento de fluxo de crianças desacompanhadas. Segundo Thomas Tancredi, oficial de proteção à criança do Unicef, é feito o trabalho de identificação e retorno para a família. “A gente apoia com passagem e faz todo o acompanhamento – tanto jurídico legal de apoio às instituições do município ou do estado – e também mantém o acompanhamento psicossocial depois que elas já estão no município de destino”, explicou.
Tristes histórias
Em uma das filas, Yurisbel Lopes aguardava atendimento acompanhada pelos dois filhos pequenos. Havia chegado naquele dia de San Félix, no norte da Venezuela, depois de 12 horas em um ônibus, percorrendo cerca de 600 quilômetros (km) até ali. Mas ela sabe que a fronteira é apenas uma das etapas até conseguir chegar no local em que o marido a espera, em Santa Catarina, a mais de 5,2 mil km dali. Deixou para trás os outros familiares e trouxe em três malas o que restou da vida no país natal.
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