Campos Neto: “Se dinheiro está caro, a culpa não é do BC, é do governo”

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O presidente do Banco Central, Campos Neto, concedeu entrevista nessa sexta-feira (12) à noite ao programa ‘Caminhos’, da CNN Brasil, apresentado pelo empresário Abílio Diniz.

Na sabatina, Neto voltou a afirmar que o governo é responsável pela alta na taxa de juros no país. “A gente tem que tomar cuidado para não ter uma inversão de valores. Se você, empresário, está tentando pegar um dinheiro e está caro, a culpa não é do BC, porque é malvado, a culpa é do governo, que deve muito. Porque o governo está competindo com você pelo dinheiro que tem disponível para aplicar em projetos. Então, assim, o grande culpado pelos juros estarem altos é que tem alguém competindo pelos mesmos recursos e pagando mais”.

De acordo com Campos Neto, se a dívida do governo fosse baixa, “o custo do dinheiro seria mais barato para todo mundo”. “Quando a gente pensa que o governo faz uma emissão hoje, longa, e paga uma taxa de juro real acima de 6%, isso não tem a ver com o Banco Central, isso é uma percepção de longo prazo e existe um risco que justifique que a taxa de juro real seja 6%”, explicou o presidente da autoridade monetária.

“Falácias” sobre inflação
Sobre a questão da inflação não estar associada à demanda, Campos Neto considerou como “falácia”. “Acho que tem duas falácias. Primeiro, que a inflação não é de demanda (…) Os componentes de oferta existiram em algum momento, principalmente durante a invasão da Ucrânia, mas eles diminuíram. Hoje, a gente tem claro os componentes de demanda e a gente consegue quantificar, olhando, dependendo do índice ou o que está acontecendo na economia, o que é a demanda e onde que está vindo essa demanda. Essa é a primeira falácia”, rebate Campos Neto.

E prosseguiu: “Segundo é que não existe também alguma coisa que diga ‘quando é inflação de oferta, você não faz nada’. Porque o BC tem que combater a inflação de demanda e tem que combater o que chamamos de efeitos secundários de um possível choque de oferta”.

Autonomia
– “Umas das condições que eu sempre disse que era fundamentais para a minha permanência é que eu tivesse autonomia. Então, eu sempre tive autonomia desde o começo, mesmo antes de aprovarem a lei de autonomia, nunca teve nenhum tipo de questionamento, nenhum tipo de pressão, sempre fizemos um trabalho técnico”.

– “Por um lado, você está, há muito tempo, trabalhando com um grupo de pessoas que você tende a ser próximo, por outro lado, você tem de entender que você tem um processo de autonomia, mas como nosso trabalho era muito técnico, era fácil fazer essa mudança”.

– “Na regra de autonomia, queria ter incluído duas coisas. A proibição da recondução e queria ter incluído a proibição de o presidente do Banco Central ter qualquer cargo político durante dois anos, porque, como ele sai no meio do mandato e tem dois anos daquele mesmo governo, eu não queria que tivesse nenhuma influência no presidente do BC para poder ter um futuro cargo”.

– “Não tem a ver com o governo atual ou com governo passado. Disse desde o dia que entrei que não queria recondução. Acho que é um período que dá para fazer bastante coisa e dá para olhar para outros projetos. E, de novo, passo o bastão para outra pessoa, que seja mais fresquinha para continuar o trabalho e ter visões diferentes. Faz parte do processo”.

– “Pretendo ficar até o final do mandato, acho que é importante cumprir a missão. A gente sempre quer fazer um mandato na melhor forma possível, fazer uma transição mais suave possível, no momento que tiver de ser feita a transição”.

Marco fiscal
– “Eu acho que ele [Haddad] está no caminho certo. Eu elogiei e continuo elogiando. Acho que, dado o cenário, dado o governo, dado as forças internas dentro do governo, o que foi feito foi bastante corajoso”.

– “Acho que o arcabouço, mesmo que não tenha tantas mudanças no Congresso, ele meio que elimina essa possibilidade”.

– “O Brasil não conseguiu, ao longo da história, se pregarmos e olharmos no detalhe, número por número, percebemos o seguinte, o Brasil teve muita dificuldade de cortar gastos. Todas as vezes que a gente melhorou o fiscal foi porque melhorou a receita”.

Diálogo com Lula
– “Eu tive uma conversa com ele [Lula], estou disponível para conversar com ele, qualquer dia, qualquer hora, sempre. Então, não tem nenhuma coisa que o BC não quer falar ou não quer conversar. Ao contrário, eu tento marcar reunião com o máximo número de ministros do governo possível”.

– “A gente tem uma preocupação com o social e eu gostaria de explicar isso. Não é que o Banco Central não tem preocupação, é o contrário, a gente tenta fazer nosso trabalho com o mínimo de custo para a sociedade possível”.

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