O tenente-coronel Mauro Cid, que atuou como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), é acusado de ter prestado informações falsas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e de violar as restrições impostas por Alexandre de Moraes, conforme revelado por reportagem da revista Veja.
A matéria aponta que uma das estratégias da defesa de Bolsonaro seria enfraquecer os depoimentos do militar, que firmou acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal em troca de benefícios.
Esse acordo ajudou a montar o quebra-cabeça sobre uma possível trama, no fim de 2022, para reverter o resultado das eleições, impedir a posse de Lula e manter Bolsonaro no poder. Durante o depoimento prestado ao STF nos dias 9 e 10 de junho, Cid foi o primeiro dos oito acusados a falar. Repetiu versões anteriores, mas teve esquecimentos suspeitos e disse inúmeras vezes “não me lembro” e “não me recordo”.
Durante o interrogatório, ao ser questionado se teria utilizado redes sociais enquanto estava submetido a restrições judiciais, Cid negou. Quando o advogado Celso Vilardi, defensor de Bolsonaro, perguntou sobre o uso do perfil no Instagram @gabrielar702, o militar respondeu de forma hesitante: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”.
Nessas mensagens, ele teria relatado a interlocutores próximos de Bolsonaro versões diferentes das apresentadas nos autos, sugerindo um jogo duplo. Entre as revelações, ele afirma que “o delegado queria manipular as declarações” e que “Alexandre de Moraes já decidiu quem vai ser condenado”.
As mensagens ainda indicam que Cid revelou detalhes de suas oitivas à PF e comentou bastidores do inquérito, o que vai contra as regras do acordo de delação. Em certo trecho, o perfil escreve: “Foram três dias seguidos”, e reclama da atuação dos investigadores: “Toda hora queriam jogar para o lado do golpe… e eu falava para trocar porque não era aquilo que tinha dito”.
Demonstrando preocupação com as consequências do processo, ele teria dito: “Eu acho que já perdemos… Os Cel PM vão pegar 30 anos… E depois vem para a gente”. Para evitar as prisões, mencionou uma possível intervenção política: “Só o Pacheco ou o Lira vai nos salvar. O STF está todo comprometido. A PGR vai denunciar”.
No depoimento formal, Cid reafirmou ter testemunhado reuniões entre Bolsonaro e militares nas quais se discutiam medidas para impedir a posse de Lula. Também declarou que o então comandante da Marinha, Almir Garnier, teria colocado suas tropas à disposição do ex-presidente, e que Bolsonaro duvidava da lisura das urnas eletrônicas.
As imagens (1, 2, 3) da suposta conversa de Mauro Cid foram publicadas pela revista.
Com base nesses e em outros elementos, o Ministério Público afirma que há provas contundentes de uma tentativa de golpe de Estado ao final do governo Bolsonaro. O vazamento das mensagens, se confirmado, pode comprometer a validade da delação de Cid e expor ainda mais o ex-presidente no processo. (Foto: STF; reprodução Veja; Fonte: Veja; CNN)