Vocalista do ‘Ira!’ se manifesta após boicote a show: “pessoas da minha idade não estão envelhecendo bem’

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Durante um período de tensão, o vocalista da banda Ira!, Nasi, quebrou o silêncio nesta quinta-feira, 10, depois que suas apresentações foram canceladas em meio à repercussão de suas declarações contrárias à anistia dos presos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e confrontos com bolsonaristas em Contagem, Minas Gerais.

Em entrevista à Billboard Brasil, ele justificou: “Esses shows foram cancelados em comum acordo com o contratante. Fizemos com muita tranquilidade. A gente achou, por ora, transferir para o futuro. Porque houve um bombardeiro desses fascistas. Porque eles agem de maneira fascista.”

A produtora informou que os shows agendados nas cidades catarinenses de Jaraguá do Sul e Blumenau, bem como em Pelotas e Caxias do Sul, foram suspensos em função do expressivo cancelamento de ingressos e da retirada de patrocínios. Em comunicado, a empresa também criticou a postura da banda, afirmando que os artistas “deveriam subir ao palco apenas para apresentar suas músicas e talentos”.

Nasi, por sua vez, minimizou a reação negativa, afirmando que o movimento de repúdio seria “fabricado”, uma vez que muitas das mensagens recebidas eram de pessoas que, na verdade, não tinham intenção de comparecer aos shows.

“É engraçado porque até o contratante falou que recebeu mensagens de pessoas de Manaus, algo como ‘ah, eu não vou no show’. (risos) O cara nem ia no show! Esses caras que estão enchendo o saco aí, robozinho… Todo mundo sabe como o gabinete do ódio age, né? Daqui a pouco eles pegam outro para Cristo. Numa boa, o Ira! saiu maior do que entrou nessa história”, concluiu o cantor, mostrando que, apesar dos desafios, a banda segue confiante em sua trajetória.

Quais são os bastidores daquele show em Minas Gerais —o que inicia tudo isso? Eles [os bolsonaristas] fizeram um recorte. Um recorte que não dá exatamente a noção da realidade. Eu vou te dizer o que aconteceu, claro, segundo a minha versão. Eu estava no show, tranquilo. Em um determinado momento do show, o público, a maioria, começou a entoar “Sem anistia!” [o brado refere-se a tentativa da extrema-direita de adquirir perdão para os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023].

Inclusive, foi engraçado porque foi no meio de “Rubro Zorro” [canção lançada em 1988, no álbum “Psicoacustica”]. E era eu cantando “O caminho do crime o atrai” e o público gritando “Sem anistia!”. Ficou perfeito, né? Acabou a música, eu realmente dei apoio. Falei: “É isso aí! Sem anistia!”. Aí, eu comecei a ser hostilizado por um grupinho —que teve o seu direito de dar opinião, que é a favor da anistia, e eu também tive o meu direito de comentar a vaia deles.

Teu discurso no palco colocou a banda junto a um assunto que movimenta as redes e acabou aproximando pessoas das atividades atuais do Ira!. Você acha que esse movimento atualiza o discurso político da banda junto aos roqueiros?

Eu sinceramente não tive essa intenção. Não foi programado. O Edgard [Scandurra] chegou para mim e disse “Pô, você devia ter me avisado”. E eu falei: “Não tinha como! Foi mais forte do que eu!”. Ele deu risada. Não foi jogada de marketing. Aconteceu. Agora, se o destino colocou esse fato no meu caminho para trazer isso que você está falando, então, eu repito: saímos maior. Eles acham que me insultam falando que sou “decadente”, “vai tocar na Venezuela”.

Eu dou risada. É gente que nem nos ouve. Teve três pessoas no Instagram que eu tive o trabalho de responder, em áudio. Pessoas que chegaram, educadas, e disseram “eu comprei ingresso pro seu show, sou de direita, acho que não vou no show”. Eu respondi com “cara, não faço seleção de público. Respeito quem é conservador” Mas eu não aceito extrema-direita. Tem outras bandas para curtir.

Eu estou cansado de responder a pergunta “por que o rock ficou de direita?”. Ficou de direita nada! Por causa de dois, três idiotas? Depois disso, a pessoa até respondeu “Obrigado, Nasi, agora eu fico tranquilo”. Esse tipo de pessoa vai ter diálogo comigo.

Mas também teve uma coisa, né? O sábado que aconteceu isso antecedeu o mais novo fiasco do bolsonarismo na direita na Avenida Paulista, onde eles queriam pôr um milhão de pessoas e quarenta mil pessoas. Então, a direita e a esquerda também aproveitaram esse episódio. Shows caem. Sabe? A caravana vai passar, os cachorros vão latir. Mas serviu para mostrar que somos o Ira! e estamos envelhecendo com muita dignidade. Infelizmente, pessoas da minha idade não estão envelhecendo bem.

E como está a sua sensação agora após ver seu nome misturado em uma conversa política nas redes Eu, talvez, tenha exagerado, e não tenha sido claro quando eu falei. Eu não expulsei ninguém. Primeira coisa, eu não falei: “Saiam daqui agora”. Eu não mandei nada. Eu falei assim: “Olha, vocês não conhecem a história do Ira, não conhecem as letras do Ira!”.

O Ira! é uma banda progressista. Nós somos democráticos. Nós passamos pela ditadura. O que eu quis dizer é o seguinte: eu não quero ter público fascista. Agora, se o público fascista, de extrema-direita, quer consumir minha música, o que eu posso fazer? Posso fazer nada. Não é do meu agrado, sabe? Eu não quero. Tem outras bandas. Vão curtir Ultraje a Rigor. Eu tenho 50 shows até o final do ano. O Ultraje tem seis. Por que eles não vão encher o saco dos contratantes para contratar esses p****s?

Lamento. Mas, repito para você, eu e o Ira! saimos maior do que entramos. Eu tive o trabalho de mensurar todas as mensagens que recebi e 80% me apoiavam. Os outros eram emoji de coco, “comunista lixo”… Eles pensam que me afetam. Você conhece uma pessoa não pelos amigos que ela tem, mas pelos inimigos. Então, se essa gente é minha inimiga, do Ira!, eu me sinto satisfeito. Meu Instagram cresceu 10% —e bloqueamos muita gente.

Se os shows não fossem cancelados, você chegou a pensar na sua postura à frente da banda no sul do país? Não. Sinceramente, eu não sabia que ia tomar essa proporção toda. Primeiro: eu não cometi nenhum crime, correto? Eu não sou cantor que está respondendo por lavagem de dinheiro com o P**. Não é? Você sabe de quem eu estou falando… Do Gusttavo Lima. O ídolo deles. Eu tenho que ter vergonha? Ou ele? Não tô falando que ele é culpado… Mas só de responder um processo desse, já é uma coisa muito ruim.

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