José Roberto Mendonça de Barros, economista e sócio-fundador da MB Associados, manifestou preocupação com os rumos econômicos sob a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao Estadão, ele destacou que a inflação voltou a ser um ponto crítico e que as expectativas de piora na economia estão próximas de se concretizar.
“Olhando o cenário atual, a inflação ‘entrou no radar de novo’”, alertou Mendonça de Barros. Ele também enfatizou que o governo parece ainda hesitar sobre a necessidade de um ajuste fiscal robusto.
Com ampla experiência em conselhos de administração, Mendonça de Barros ocupa atualmente posições estratégicas na UISA – Usinas Itamarati e na Scicrop.
No âmbito acadêmico, lecionou Economia na Universidade de São Paulo por mais de três décadas, contribuindo para a formação de gerações de economistas. No setor público, destacou-se como Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 1995 e 1998, período em que desempenhou papel crucial na formulação de políticas econômicas.
Para o economista em entrevista ao Estadão, é difícil entender a demora do governo Lula em optar por um caminho claro: “Existe o caminho de buscar o grau de investimento, que está sendo apontado pelo ministro Fernando Haddad, e existe o outro caminho – que já deu errado e não tem como dar certo. Isso deixa a gente estupefato. Eles já deveriam saber para onde ir.”
Além disso, ele chamou atenção para o impacto de fatores externos, mencionando que a possível reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos traria desafios adicionais para economias emergentes como a do Brasil. Segundo Mendonça de Barros, esse cenário torna o ambiente global ainda mais complicado para o país. Veja abaixo trechos da entrevista e clique AQUI para ver na íntegra. (Foto: reprodução vídeo canal Genial Investimentos)
Que avaliação o sr. faz da atual conjuntura econômica?
Estou bastante preocupado com o andar da carruagem. E o centro disso, que eu acho que todo mundo concordaria, é a piora das expectativas. O que mais preocupa é que a inflação encostou em 5%. Não é que ela encostou no teto da meta; ela encostou em 5%. Estamos no vértice de transformar a expectativa em fato consumado. Essa é a maior preocupação.
E, internamente, temos aumento de juros pelo Banco Central…
A taxa de juros vai seguir o seu curso. A pancada no crédito vai ser enorme, e as pessoas estão subestimando isso. Se você somar o impulso menor que virá do setor externo, a contração que vem do aumento de juros, com taxas inacreditáveis de 6,5%, 7%, reais, mata qualquer coisa. E o impulso fiscal vai desacelerar. Não tem como escapar. Ainda que os economistas em geral tenham errado muito as projeções para o PIB nos últimos três anos, não vejo de onde virá um crescimento forte no ano que vem. Prevemos crescimento de 1,8% no PIB em 2025.
O caminho para atenuar isso é o pacote fiscal?
É a bola da vez mesmo. Não tem escolha, porque, se não tiver isso, não tem chance de melhorar um pouco da expectativa – e aí não cai o câmbio, não cai a questão da inflação, e a gente vai para uma situação muito complicada.