Ministério da Saúde realiza seminário para discutir o ‘impacto do machismo na saúde da sociedade’

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Nesta sexta-feira (14), “para qualificar as discussões acerca do Dia do Homem, comemorado em 15 de julho”, a Secretaria de Atenção Primária do Ministério da Saúde realizou o seminário ‘Padrões de masculinidades e seus reflexos sobre a saúde na sociedade contemporânea’.

O ‘debate’ abordou os “efeitos do machismo na saúde da população” e como as políticas públicas podem intervir para estabelecer uma vivência ‘mais saudável’ e ‘não violenta’ para toda a sociedade. O evento teve participação do Ministério das Mulheres e de outras instituições convidadas.

O seminário foi voltado para gestores, profissionais de saúde e população interessada no tema. “O encontro visa ampliar a participação social para a implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, principalmente no debate sobre a construção social das masculinidades e suas consequências para a saúde da população como um todo. A Pnaish é uma das estratégias do SUS para a promoção da equidade de gênero em saúde, que reconhece as construções sociais das diferenças sexuais como importante fator na caracterização dos padrões de morbimortalidade de homens e de mulheres”, explica o coordenador de Atenção à Saúde do Homem, Celmário Brandão.

A justificativa
De acordo com a ‘Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem’ (Pnaish), a ‘masculinidade hegemônica’ ainda é um dos principais motivos que impedem os homens de buscarem serviços de saúde.

Segundo a pasta do Ministério da Saúde, em nota divulgada, a ‘Organização Pan-Americana da Saúde’ (Opas) também aponta o machismo como um dos determinantes sociais da saúde, “visto que os homens assumem comportamentos de risco, como uso excessivo de álcool, atos violentos e hábitos alimentares prejudiciais, para se encaixarem nesse padrão. Como resultado, há prejuízo à saúde dos homens, bem como à das mulheres e crianças.”.

Idealizar masculinidade afeta toda a sociedade
O psicólogo Fernando Pessoa, participante do evento e que fazia pesquisa de doutorado entre homens usuários do serviço de saúde mental de Brasília”, relatou um caso presenciado que teria vivenciado e usou o nome fictício ‘Jeremias’ para narrar a história.

“Vários usuários dos CAPs que entrevistei se sentiam à margem deste modelo. O Jeremias, por exemplo, disse: ‘Estou desse jeito porque não sou homem. E não sou homem porque estou deixando faltar coisas. Minha esposa falou: ‘Jeremias, não tenho mais fraldas para os meus filhos’. O que eu faço? Aqui [no CAPs], eu [Jeremias] vejo muito cara batalhador que se sente menos porque não consegue bancar a família; não consegue ser aquilo que esperavam que a gente fosse. E aí a gente começa a se perder’”.

Um dos slides apresentado na palestra

Atualmente trabalhando na ‘Coordenação de Atenção à Saúde do Homem’, do Ministério da Saúde, Pessoa disse que as pesquisas acadêmicas e a prática profissional “são unânimes” ao apontar os “malefícios da falsa ideia” de que homens devem ser “viris, competitivos, provedores e aspirar a uma relativa invulnerabilidade”.

“Conforme demonstram as evidências científicas, os homens que adotam os padrões tradicionais de masculinidade têm mais transtornos mentais, buscam menos os serviços de saúde, têm maiores taxas de suicídio, se envolvem mais em situações de violência – especialmente de violência autoprovocada [autoagressões, tentativas de suicídio e suicídios]. Eles também fazem mais uso prejudicial de álcool e apresentam maior resistência ao uso de preservativos. Consequentemente, apresentam maior incidência de doenças sexualmente transmissíveis. E também vão ter menor adesão a programas de imunização”, alegou o psicólogo.

Professora do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP), Márcia Thereza Couto defendeu que a construção de políticas públicas deve levar em conta a possibilidade de ‘influenciar’ na ‘construção de modelos de masculinidades’ que tragam benefícios para a saúde e bem-estar não só dos homens, mas também de mulheres e crianças.

“Aqui [no Ministério da Saúde] é um espaço de gestão muito forte, muito precioso para isso. E já temos, no Brasil e na América Latina, uma produção de pelo menos duas décadas sobre a complexidade do debate em torno do paradoxo dos homens que não se responsabilizam por sua saúde, não procurando ajuda, e que são os que mais morrem por causas evitáveis.” Clique AQUI para assistir na íntegra ao evento (disponibilizado no Youtube)


Fonte: Agência Brasil
Foto: divulgação Ministério da Saúde

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