A decisão da Prefeitura de Venda Nova do Imigrante, na Região Serrana do Espírito Santo, de cobrar ingressos para uma apresentação musical financiada com verba pública provocou polêmica entre os moradores. O município justifica a medida como forma de limitar o número de participantes e reaver parte dos gastos da administração.
A cobrança ocorrerá somente no sábado (10), durante a 37ª edição da Festa de Emancipação Política da cidade, marcada para os dias 10 e 11 deste mês no Centro de Eventos Padre Cleto Caliman, o Polentão, administrado pelo poder público. A atração principal da noite será o cantor João Gomes, e os ingressos estão sendo vendidos por R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), além das taxas de serviço da plataforma online.
De acordo com registros de compras públicas, os contratos para as atrações de 2025 estão sendo pagos com recursos livres, provenientes de arrecadação tributária ou repasses. Além disso, a Prefeitura destinou R$ 9 mil para a empresa responsável pela comercialização das entradas. O total investido nos shows deste ano ultrapassa R$ 700 mil.
Em 2023, a entrada foi gratuita durante os três dias de programação. Na ocasião, a administração municipal gastou cerca de R$ 688 mil e, em um dos dias, a entrada era garantida apenas mediante a doação de produtos de higiene.
A cobrança neste ano gerou descontentamento nas redes sociais, onde moradores expressaram insatisfação. O prefeito Dalton Perim (Republicanos) defendeu a decisão, afirmando que a intenção é “recuperar para os cofres públicos o valor investido em demandas que são prioridade na cidade”.
Segundo o prefeito, a medida também responde à percepção de que “na maioria dos shows abertos com artistas nacionais, quem mais se beneficia é o público que vem de fora. Então, fica estranho a prefeitura investir em shows que serão aproveitados por pessoas de outras cidades e não por moradores”.
Apesar da cobrança, Perim reconhece que a arrecadação não será suficiente para quitar os custos do evento. “A gente colocou uma entrada para garantir o show e, pelo que temos visto, o valor da venda não dará para cobrir nem metade das despesas”, afirmou.
O prefeito também declarou que “a equipe da prefeitura cuidou para que [a venda de ingressos] fosse feita dentro da lei”, embora não tenha especificado a base legal adotada. Segundo ele, o Ministério Público foi consultado e autorizou a prática, desde que fossem respeitados critérios de transparência e prestação de contas: “Afirmaram não haver ilegalidade na venda dos ingressos e exigiram somente que houvesse prestação de contas dos recursos e transparência na aplicação”.
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História
A partir do fim do século XIX e início do século XX, grandes propriedades rurais da região começaram a ser fracionadas em pequenas glebas e comercializadas com famílias de imigrantes italianos. Assim como outros municípios da Serra do Espírito Santo, Venda Nova do Imigrante foi moldada pela chegada desses colonos europeus.
Os primeiros imigrantes desembarcaram por volta de 1892, vindos da província de Treviso, na Itália. Cerca de três anos depois, muitas dessas famílias migraram para a região do Alto Castelo, onde ocuparam lotes distribuídos pelo governo. Parte desses pioneiros também contribuiu para a fundação do município vizinho de Afonso Cláudio, no mesmo período.
Até os anos 1940, a população local era composta exclusivamente por descendentes de italianos, que mantinham viva a cultura e a língua vêneta — um dialeto originário do Nordeste da Itália, falado na região do Vêneto.
Situado em área de relevo elevado, o município se beneficia de um clima tropical de altitude, marcado por duas estações bem definidas: de maio a setembro, predomina o tempo frio e seco; já entre outubro e abril, os dias são mais quentes e úmidos, com maior ocorrência de chuvas.
Venda Nova do Imigrante conquistou destaque nacional ao se tornar referência no agroturismo — uma modalidade que une experiências rurais, atividades agrícolas, preservação ambiental e lazer. Reconhecida como berço dessa prática no Brasil, a cidade recebeu o título de Capital Nacional do Agroturismo, concedido inicialmente pela Abratur (Associação Brasileira de Turismo Rural). O movimento teve início em 1987, quando a atividade ainda nem possuía um nome oficial no país.
A inspiração para esse modelo de turismo veio da Itália, onde a prática já era conhecida como agriturismo. Foi de lá que os primeiros produtores buscaram conhecimento e referências para implantar o conceito no Espírito Santo.