Representantes da União Europeia entraram em contato com governo brasileiro buscando reacender as negociações com o bloco sul-americano do Mercosul sobre um acordo comercial paralisado, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento direto do assunto. As informações são da agência de notícias Reuters, divulgadas nessa terça-feira (16).
O contato ocorre em meio a rápidas mudanças nas cadeias de suprimentos globais após a pandemia e a guerra na Ucrânia, que aumentaram a influência do Brasil como potência agrícola, de acordo com uma autoridade brasileira que falou anonimamente, pois as conversas são privadas.
Desde 2021, a UE exigiu, para formalização do acordo, uma carta paralela para incluir “garantias sobre o meio ambiente”, com a justificativa que eram preocupações com o desmatamento na Amazônia. Mas este documento, no entanto, ainda não foi apresentado.
Mas há duas semanas, funcionários dos ministérios da Economia e das Relações Exteriores do Brasil mantiveram uma conversa preliminar com emissários da UE, e uma nova reunião está marcada para o final de setembro para traçar novas negociações, disse a agência Reuters.
“Essa discussão foi paralisa. Eles voltaram a discutir o acordo entre Mercosul e União Europeia justamente porque (os europeus) precisam de commodities agrícolas, minerais e energéticas. Não podem mais contar com a Rússia, há o problema da interrupção da cadeia produtiva, dependência excessiva da Ásia”, afirmou fonte relatada pela Reuters.
A agência também diz que um diplomata europeu confirmou a retomada dos contatos para iniciar uma nova rodada de negociações sobre o acordo do Mercosul, que levou duas décadas para ser negociado (por questões ideológicas) e criaria o maior mercado de livre comércio do mundo em termos de população.
Segundo uma fonte do Brasil, os europeus estão interessados em internalizar o acordo e os dois lados da mesa vão agora discutir os termos, com a carta de acompanhamento sobre preservação ambiental prevista para o final deste ano.
As negociações do pacto comercial entre a UE e o bloco Mercosul da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai foram concluídas em 2019, mas as supostas preocupações ambientais dos europeus trouxeram resistência à aprovação do acordo pelas legislaturas dos 26 estados membros da UE.
No mês passado, a deputada europeia Anna Cavazzini e dois outros eurodeputados do grupo político Verdes/EFA visitaram o Brasil para avaliar a suposta “ameaça à Amazônia da mineração ilegal de ouro e extração de madeira que surgiu sob Bolsonaro”, disse ela. Em entrevista à Reuters, ela ainda afirmou que as “preocupações ambientais” significavam que não havia como o acordo comercial passar “com Bolsonaro no cargo”.
Já França, maior produtor agrícola da UE, é um dos oponentes mais veementes do acordo e disse no ano passado que não havia chance de ratificá-lo, também alegando as “questões ambientais”
Em resposta, o governo federal lembra que a pauta amazônica tem sido usada como pretexto para adiar o pacto por motivos protecionistas, com oposição vinda principalmente de grandes estados produtores, como a própria França, de Macron.