Enquanto seu principal enviado tratava de questões diplomáticas com Vladimir Putin por mais de quatro horas em São Petersburgo, o presidente Donald Trump voltou a criticar a continuidade do conflito na Ucrânia e fez um pedido direto à Rússia.
“A Rússia precisa se mexer. Muita gente está morrendo, milhares por semana, numa guerra terrível e sem sentido”, escreveu o republicano na rede Truth Social, evidenciando sua insatisfação com o impasse nas tratativas por um cessar-fogo.
O responsável pela missão foi Steve Witkoff, figura próxima a Trump e apontado como seu negociador de confiança. Ele se encontrou com o presidente russo na biblioteca presidencial da cidade, curiosamente um local que abriga uma exposição sobre tratados diplomáticos da história russa — um cenário carregado de simbolismo, apesar da escassez de informações sobre o conteúdo da conversa.
Conforme reportagem da Folha, antes do encontro com Putin, Witkoff teria se reunido com Kirill Dmitriev, dirigente do fundo soberano russo e peça-chave nas negociações do Kremlin. Conforme noticiado pela agência Reuters, uma das pautas foi a possível aceitação, por parte de Trump, da anexação de quatro províncias ucranianas pela Rússia, mesmo sem pleno controle militar sobre elas.
Enquanto isso, crescem os indícios de que Moscou prepara uma nova ofensiva militar de larga escala para os próximos meses. O comando ucraniano alertou para a movimentação de tropas russas nas imediações de Tchernihiv, no norte do país — região que foi parcialmente ocupada durante o início da invasão, em 2022.
Conflitos também se intensificam em Sumi e Kharkiv, áreas próximas à fronteira que já foram palco de disputas anteriores. Ambas foram invadidas no início da guerra, recuperadas pelos ucranianos, e voltaram a sofrer ataques mais recentemente.
O objetivo do Kremlin, segundo veículos internacionais, seria consolidar avanços territoriais antes de qualquer diálogo formal com Kiev. Nesse contexto, mais de 40 nações reunidas em Bruxelas sob a liderança da Otan anunciaram o maior pacote de apoio militar até agora: € 21 bilhões (equivalente a cerca de R$ 140 bilhões). Veja a seguir os impasses do acordo. (Foto: Tass; Fonte: Folha de SP; Reuters)
Pontos de impasse nas negociações entre Rússia e Ucrânia:
(Segundo reportagem da Folha de SP)
1. TERRITÓRIO
Rússia: Exige o controle total das áreas anexadas em 2022, além da Crimeia, tomada em 2014.
Ucrânia: Recusa abrir mão de qualquer parte do território, embora reconheça dificuldade em retomar o que já perdeu.
Proposta dos EUA: Entregar 20% do território à Rússia, com possibilidade de rever o status das regiões futuramente.
2. NEUTRALIDADE
Rússia: Quer que a Ucrânia seja permanentemente barrada na Otan, mas aceita sua entrada na União Europeia.
Ucrânia: Deseja adesão futura à Otan e ingresso mais imediato na UE.
Proposta dos EUA: Bloquear entrada na Otan, mas garantir apoio militar contínuo; entrada na UE seria mantida.
3. DESARMAMENTO
Rússia: Exige que a Ucrânia não tenha capacidade de atacar seu território.
Ucrânia: Rejeita qualquer restrição ao uso de suas forças armadas.
Proposta dos EUA: Criar uma zona neutra que impeça ofensivas diretas contra a Rússia.
4. GARANTIAS DE SEGURANÇA
Rússia: Aposta apenas em sua própria palavra como garantia e é contra presença militar estrangeira próxima.
Ucrânia: Defende a presença de uma força de paz europeia, distante da linha de combate.
Proposta dos EUA: Pressionar Putin a aceitar presença de tropas estrangeiras como parte do acordo.
5. CRIANÇAS NA RÚSSIA
Rússia: Alega ter acolhido 700 mil crianças de áreas ocupadas por razões humanitárias.
Ucrânia: Exige o retorno de todas elas.
Proposta dos EUA: Repatriação vinculada ao futuro status das regiões ocupadas — se se tornarem oficialmente russas, há debate.
6. REPARAÇÃO DE GUERRA
Rússia: Quer que lucros de reservas congeladas incluam áreas anexadas.
Ucrânia: Exige que Moscou arque com os cerca de US$ 500 bilhões de danos.
Proposta dos EUA: Usar uma combinação entre reservas russas e ganhos futuros da exploração mineral conjunta.