No domingo, o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, revelou que ex-policial Ronnie Lessa fechou um acordo de delação premiada para, enfim, revelar quem teria mandado matar a vereadora carioca Marielle Franco (Psol-RJ), em 2018.
Ainda de acordo com o jornalista, a “precisa de uma homologação no STJ”, o que o que indica que a pessoa delatada por ele como possível mandante dos assassinatos tem foro por prerrogativa de função, também conhecido como foro privilegiado.
E nesta terça-feira (23), o portal de esquerda ‘The Intercept Brasil’ trouxe a informação de Ronnie Lessa, o autor dos disparos que mataram Marielle Franco e Anderson Gomes, teria delatado o ex-deputado estadual Domingos Brazão (foto abaixo), ex-filiado ao MDB e conselheiro do ‘Tribunal de Contas’ do Rio de Janeiro, como um dos mandantes do assassinato.
O nome de Brazão surgiu pela primeira vez nas investigações do caso em 2019, por suspeitas de obstrução das investigações, e voltou à baila no fim do ano passado, em meio à delação premiada do ex-policial militar Élcio Queiroz, motorista que dirigiu o carro para Ronnie Lessa durante o assassinato.
Procurado pelo Intercept, o advogado de Brazão, Márcio Palma, disse não saber que o nome do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro foi citado na delação. Palma também disse não ter acesso aos autos da investigação, uma vez que Brazão até então, não é formalmente investigado neste caso.
A principal hipótese trazida nas investigações envolvendo Brazão, segundo o Intercept, envolve uma suposta vingança contra o ex-deputado Marcelo Freixo, à época filiado ao PSOL.
Enquanto também deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Brazão entrou em disputas políticas com Freixo. Marielle trabalhou com Freixo durante 10 anos, até ser eleita vereadora, em 2016.
A rixa entre os parlamentares tem origem central em 2008, quando o nome de Brazão foi citado no relatório final da CPI das Milícias, presidida por Freixo, como um dos políticos ‘liberados’ para fazer campanha política em Rio das Pedras. Em 2017, Freixo também teve papel central na Operação Cadeia Velha, que ocorreu cinco meses antes do assassinato da vereadora e prendeu políticos influentes do MDB no Rio de Janeiro.
Perfil
Domingos Inácio Brazão nasceu no Rio de Janeiro, a 7 de março de 1965. É um empresário do ramo dos postos de gasolina e político brasileiro. É irmão de outros dois políticos: Chiquinho Brazão, eleito pela primeira vez em 2016, e Pedro Brazão, que entrou para a política pela primeira vez em 2018.
Até 2015, foi filiado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido pelo qual exerceu o mandato de deputado estadual no Rio de Janeiro. Atualmente é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ).
Em 1996 foi eleito vereador no Rio de Janeiro. Em 1998 foi eleito deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Em 2000, foi candidato a prefeito da cidade do Rio de Janeiro, ficando na 8ª colocação com 36 858 votos. Já em 2002, foi reeleito ao cargo de deputado estadual.
Em 2006 foi reeleito pelo 3º mandato deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Reelegeu-se ao cargo na ALERJ, em 2010, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em meio a denúncias de compra de votos, chegando mesmo a ter seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) em 2010. Dias depois, porém, manteve-se no cargo graças a uma liminar concedida pelo então ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski.
No pleito eleitoral de 2014, Domingos Brazão se candidatou a deputado pelo MDB e declarou apoio à reeleição de Dilma Rousseff à presidência. O partido, então ‘PMDB’, tinha Michel Temer como vice da ex-presidente impichada.
Após ser reeleito para o 5º mandato de deputado para o período 2015-19, a ALERJ o elegeu, em abril de 2015, para ser um dos sete conselheiros vitalícios do TCE-RJ.
Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle Franco, delata Domingos Brazão como um dos mandantes do atentado a ex-vereadora. E foi aprovado pra ir pro TCE do Rio com votos do PT na Alerj. pic.twitter.com/xaBnclc2LW
— Nikolas Ferreira (@nikolas_dm) January 23, 2024
Operação Quinto Ouro
Em 29 de março de 2017, Brazão foi um dos alvos dos mandados de prisão da Polícia Federal.[10] A Operação Quinto do Ouro, desdobramento da Operação Lava Jato prendeu Brazão e mais outros quatro membros do TCE-RJ, incluindo o seu presidente Aloysio Neves e os conselheiros José Maurício Nolasco, José Gomes Graciosa, Marco Antônio Alencar (filho do ex-governador e prefeito do Rio Marcello Alencar) e Aluísio Gama de Souza (ex-conselheiro) por serem suspeitos de participar de um esquema de desvio de verbas públicas.