Refugiados do ‘8 de Janeiro’ falam sobre a vida na Argentina

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Investigados pelos atos de 8 de janeiro, Luiz Fernandes Venâncio, 50, Marco Antônio Iglesias Simal, 31, e Daniel Bressan, 37, conversaram com o portal UOL.

Eles deixaram o Brasil e agora residem na Argentina, aguardando o reconhecimento da condição de asilados políticos e tentando reconstruir suas vidas. Venâncio e Simal concordaram em falar por vídeo com a reportagem, enquanto Bressan optou por não aparecer.

Nesta semana, o ministro Alexandre de Moraes emitiu 208 mandados de prisão para investigados pelos atos de 8 de janeiro, após uma reportagem do UOL revelar que cerca de 60 brasileiros já tinham pedido asilo na Argentina.

Luiz Fernandes Venâncio, vendedor de 50 anos, relatou ter fugido do Brasil após quebrar a tornozeleira eletrônica com uma faca e pegar um ônibus na rodoviária do Tietê, em São Paulo. Ele chegou ao Uruguai em 18 de março e, dois dias depois, ingressou na Argentina, onde atualmente vive com a esposa.

Venâncio mora em um apartamento alugado no bairro nobre da Recoleta e se sustenta com a venda de cosméticos e pulseiras verde-amarelas, chamadas de “patriotas”. Ele fez pedido de refúgio na Argentina e tem ajudado outros investigados no caso a fazerem o mesmo, atuando como intérprete e auxiliando na condução de documentos e relatos.

Venâncio contou ter acordado às 5h no dia da fuga e se dirigido à sua empresa no bairro do Tucuruvi, em São Paulo. Lá, ele cortou a tornozeleira com uma faca e tirou o chip do celular. Quatro horas depois, chegou à rodoviária do Tietê.

Usando um telefone emprestado, pediu dinheiro vivo à esposa para a fuga. Ele embarcou em um ônibus com destino a Montevidéu, no Uruguai, passando pelo Rio Grande do Sul. No entanto, devido ao alto custo de vida no Uruguai, decidiu seguir para a Argentina, onde um amigo em Córdoba lhe havia sugerido que empreender seria mais viável. Dois dias depois, Venâncio ingressou na Argentina e, em dez dias, chegou a Buenos Aires.

Venâncio mostrou ao UOL um documento da Comissão Nacional para os Refugiados, órgão do Ministério do Interior da Argentina, que autoriza sua permanência provisória até 22 de julho. Esse documento impede que ele seja preso, mesmo havendo uma ordem de prisão expedida por Alexandre de Moraes contra ele.

Marco Iglesias
Aos 31 anos, Marco Antônio Iglesias Simal, réu no STF devido aos atos de 8 de janeiro, chegou à Argentina em 26 de março, na mesma época que Luiz Fernandes Venâncio. Natural de Taubaté (SP), Simal está desempregado e não fala espanhol, morando em um abrigo e almoçando em igrejas em Buenos Aires.

“Eu tinha dinheiro guardado e esse dinheiro durou apenas um mês e acabou”, contou. Ele consulta a internet e percorre as ruas de Buenos Aires diariamente em busca de trabalho. Apesar das dificuldades, Simal não se arrepende: “Sua liberdade vale mais do que isso, você não concorda?”.

Segundo denúncias do Ministério Público Federal, Venâncio e Simal acamparam em frente ao QG do Exército em Brasília, “incitando, publicamente, animosidade das Forças Armadas contra os Poderes Constitucionais”. Acusados de incitação ao crime e associação criminosa, ambos rejeitaram um acordo para encerrar os processos. A PGR pediu a prisão de Venâncio após flagrá-lo em uma manifestação no litoral paulista depois do 8 de janeiro.

Daniel Bressan
Daniel Bressan, 37 anos, pedreiro e vendedor, preferiu não aparecer no vídeo. Preso no Brasil por alguns meses após os ataques, ele obteve liberdade condicional com tornozeleira, mas quebrou o equipamento e fugiu para a Argentina. “Eu prefiro morrer do que passar por aquilo [prisão e uso de tornozeleira] de novo.”

Bressan foi acusado pela PGR de participar do 8 de janeiro em cinco crimes: “tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do estado de direito, dano qualificado, destruição de bem protegido e associação criminosa”. Ele nega os crimes e afirma que não entrou no Palácio do Planalto. De acordo com a reportagem do UOL, um laudo da PF que comparou imagens de Bressan com as de uma pessoa no prédio concluiu que apenas a orelha do refugiado se assemelha às imagens das câmeras de segurança.

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