Manifestantes bloqueiam BR-174 contra demarcação do Governo Federal de nova área de preservação em Roraima

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Nessa sexta-feira (9), moradores da Vila Petrolina e vicinais próximas, em Caracaraí, Sul de Roraima, fizeram uma manifestação pacífica com interdição parcial da BR-174, nos dois sentidos, no perímetro urbano, com o objetivo de chamar a atenção do governo federal e evitar a ampliação do Parque Nacional do Viruá, localizado no município, a 200 quilômetros de Boa Vista.

O bloqueio da rodovia, segundo a PRF, deve continuar até este domingo (11), com liberação a cada duas horas.

São prioridades ambulâncias e pessoas doentes. De acordo com os moradores, cerca de 200 famílias vivem no entorno do parque e devem ser retiradas da região com a medida anunciada por Lula (PT) e pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

A presidente da ‘Associação da Comunidade e Agricultores Familiares da Vila Petrolina do Norte’, Mirian Guimarães (foto abaixo), ressaltou que a ampliação do parque afetará todos os setores da cadeia produtiva de Caracaraí e regiões, até mesmo os pescadores ficarão impedidos de trafegar no rio e extrativistas não terão como extrair castanhas.

“Estamos aqui simplesmente querendo chamar a atenção do presidente Lula e da ministra Marina Silva para que nós sejamos ouvidos”, explicou ao informar que 200 famílias correm o risco de perder o lote e ficar sem renda. Na região, são produzidos hectares de frutas, legumes, farináceos e derivados do leite e carne.

Além da ampliação do Parque Nacional do Viruá, o governo federal pretende ampliar a Estação Ecológica de Maracá, situada nos municípios de Alto Alegre e Amajari, e criar a Floresta Nacional do Parima, em Amajari. A ampliação destas áreas para o domínio da União foi motivo de manifestação da Assembleia Legislativa de Roraima com publicação de Moção de Protesto nº 009/2023 assinado pela maioria dos parlamentares estaduais.

O presidente da Assembleia Legislativa de Roraima, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), afirmou que a manifestação dos moradores é legitima e que o Estado tem cumprido seu papel com a efetivação do ZEE (Zoneamento Ecológico-Econômico) e políticas de preservação do meio ambiente e respeito às tradições indígenas.

“Temos a melhor legislação ambiental do país, já temos nossas áreas demarcadas, nosso desmatamento é mínimo e não podemos aceitar que o governo federal, mais uma vez, venha demarcar ou ampliar reservas ambientais em nosso Estado e deixar milhares de famílias que produzem e geram renda sem suas terras e assistência”, disse.

O ex-senador Aldo Rebelo (PDT), que, mesmo de esquerda, costuma ter um posicionamento bastante coerente em relação a essas demarcações (não seguindo o mesmo discurso do governo petista e da imprensa nessa quesito) também criticou a decisão.

“Inaceitável a delimitação em um estado no qual restam 6%, isto mesmo, 6% para atividade econômica e sobrevivência da população, já que os outros 94% do território estão bloqueados por terra indígena, unidades de conservação, APPs e Reserva Legal.”.

 

Em maio, o Ministério do Meio Ambiente oficializou o governo do Estado sobre a criação e ampliação de Unidades de Conservação Federais em Roraima, após estudos e consultas públicas do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). Segundo a pasta, o intuito é “contribuir para a preservação do patrimônio ambiental e desenvolvimento de bases sustentáveis de cada região”.

Atualmente, o Parque Nacional do Viruá, criado em 1998 pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, tem 227.011 hectares. A proposta do ministério é ampliar para 285.800 hectares, ou seja, avançaria da entrada do parque até a “Estrada Perdida”. Com isso, as propriedades situadas às margens do Parque Nacional do Viruá serão “engolidas”.

O medo tem sido a companhia dos produtores da agricultura familiar da região. Neri Strapazzon tem 69 anos e há 22 é proprietário do sítio localizado na “Estrada Perdida” que dá acesso ao Parque do Viruá. Da localidade, são exportadas sacas de laranjas produzidas em mais de 400 laranjeiras e do pequeno gado retira-se o queijo consumido por moradores de Boa Vista.

“Quase todos os anos, a gente investe aí R$ 10 mil, R$ 15 mil para limpeza de pasto, cerca, galinheiro, uma moradia completa e fazemos manutenção. Medo de ficar no prejuízo, eu e meus vizinhos aqui, todos nós produzimos para sobreviver”, explicou Strapazzon. O receio é ser retirado e não ser ressarcido pela desapropriação da terra. “E se eles não indenizarem, como eu vou comprar outra terra?”, lamentou.

Do mesmo sentimento compartilha o agricultor Pedro Farias (foto abaixo), de 82 anos. A idade avançada é um dos empecilhos para o recomeço. “Se me tirarem de lá, vão acabar comigo”, disse o morador da Vicinal 4. “Serve para nós e o pessoal da cidade. Nós produzimos e nossa família precisa desse lugar para viver”, alertou. Ele conta que produz “de tudo um pouco”, como abacaxi, cana, arroz, milho, mandioca, banana. “Até mesmo ipê, eu fiz um reflorestamento de ipê. Quando aflora, fica a coisa mais linda”, contou.

O vice-prefeito de Caracaraí, Júlio César (Republicanos), destacou os prejuízos para o Estado. “Afetam mais de 200 famílias da agricultura familiar e nós queremos mostrar que não cabe mais essa ampliação no nosso município. Eles não consultam a comunidade e agora fomos surpreendidos com a minuta”, salientou.


Fonte e fotos: Assembleia de RR

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