A jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, revelou com exclusividade os bastidores da articulação envolvendo o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e o projeto de anistia aos presos pelos atos de 8 de Janeiro. Mesmo após declarar publicamente que não pretende pautar a proposta, Motta tem atuado para encontrar um caminho entre as pressões do Planalto e da oposição.
Segundo a colunista, Motta se reuniu com Jair Bolsonaro na última quarta-feira (9), em Brasília, para tratar do assunto. “Na saída, combinaram de não abrir para ninguém o que foi dito”, escreveu Megale. Ainda assim, a jornalista apurou que o diálogo entre os dois já havia começado na véspera, por telefone.
Conforme revelou a colunista, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, contou que Bolsonaro afirmou ter recebido de Motta a promessa de que colocará o projeto em votação, caso haja assinaturas suficientes para o regime de urgência. “Cavalcante me disse também que ainda hoje deve completar o recolhimento das 257 assinaturas necessárias”, destacou a colunista.
Apesar das afirmações do parlamentar, Bela Megale lembra que não é a primeira vez que Cavalcante garante estar próximo de atingir o número mínimo de apoios, o que exige cautela. Se dessa vez a meta for alcançada, Motta ficará em situação delicada. “Vai colocar o presidente da Câmara em uma sinuca de bico”, escreve a jornalista.
O motivo é que, durante sua campanha à presidência da Casa, Motta fez promessas divergentes a aliados e adversários políticos. “Aos líderes do PL, que tem 90 deputados, prometeu que botaria o projeto para votar. E ao governo disse que não o faria”, revelou a colunista.
Essa dualidade explicaria a postura ambígua do presidente da Câmara até recentemente. No entanto, após retornar de viagem ao Japão com o presidente Lula — e depois de ser duramente criticado pelo pastor Silas Malafaia em um ato pela anistia realizado em São Paulo — Motta foi mais direto: “não vai pautar o projeto porque ele ‘aumentaria a crise institucional’ que o Brasil, na sua visão, ‘já vive’”, segundo a coluna.
Ainda assim, a pressão sobre o Congresso continua intensa, o que tem levado Motta a buscar alternativas. Bela Megale revela que ele chegou a sugerir a Lula que concedesse um indulto aos detidos que não tiveram participação direta em atos de violência durante a invasão aos Três Poderes. “Motta acha que seria muito melhor se o próprio presidente indultasse os presos”, teria dito um interlocutor próximo do deputado à equipe da colunista.
A proposta, no entanto, foi descartada por membros do governo. “De acordo com integrantes do primeiro escalão da administração petista, não há chances, hoje, de o petista capitanear uma iniciativa nesse sentido”, destaca a jornalista.
Sem o apoio do Executivo, Motta passou a buscar uma solução intermediária junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Bela Megale, a proposta envolve a revisão das penas e a soltura daqueles envolvidos em crimes considerados de menor gravidade.
Esse movimento já trouxe algumas respostas: “Nos últimos dias, o Supremo soltou 12 acusados de participar do ataque às sedes dos Três Poderes e reviu algumas medidas cautelares”, escreveu a colunista. No entanto, ela pondera que a ideia de Motta ainda não ganhou força suficiente na Corte.
Enquanto isso, a oposição segue pressionando pela anistia total. Tanto Bolsonaro quanto Sóstenes Cavalcante, segundo Bela Megale, seguem firmes na estratégia de recolher as assinaturas e forçar a votação da proposta no plenário, aumentando o desgaste e a tensão nos bastidores da política em Brasília. E mais: China faz estoque de soja brasileira. Clique AQUI para ver. (Foto: Ag. Câmara; Fonte: O Globo)