
A Polícia Federal identificou “fundados indícios de lavagem de dinheiro” envolvendo dirigentes e procuradores ligados à Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), como parte de uma apuração sobre descontos indevidos em aposentadorias e pensões pagas pelo INSS. A reportagem é da Folha de SP.
Segundo decisão da 15ª Vara Federal de Brasília, de março deste ano, a Controladoria-Geral da União detectou que, entre 2019 e março de 2024, aproximadamente R$ 4,2 bilhões foram abatidos de benefícios previdenciários sob a justificativa de contribuição associativa, favorecendo seis entidades. Desse total, cerca de R$ 2 bilhões — o equivalente a 48% — foram destinados à Contag.
O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) emitiu relatórios que mostram movimentações financeiras suspeitas da confederação. Foram identificadas transferências fracionadas de R$ 26,4 milhões para 15 beneficiários, com predominância de empresas.
Dentre elas, uma agência de turismo de São Bernardo do Campo recebeu R$ 5,2 milhões e possui uma frota de 12 veículos de luxo, a maioria adquirida recentemente. Outras duas empresas de Brasília também foram contempladas: uma de eventos, com R$ 843 mil, e outra de buffet, com R$ 737 mil.
Na decisão judicial, o magistrado apontou “indícios seguros” de que representantes da Contag, ao longo de cinco anos, promoveram descontos indevidos em milhares de benefícios previdenciários, o que teria gerado “enriquecimento ilícito dos envolvidos”. Ele também destacou sinais de ocultação de bens e movimentações financeiras que justificaram a necessidade de buscas para aprofundar as investigações.
A Justiça mencionou ainda que o presidente da Contag firmou acordos com o INSS e solicitou, via ofício, o desbloqueio em massa de 34.487 benefícios para permitir os descontos, prática considerada irregular até mesmo pela auditoria interna da autarquia. O modelo adotado transferia à entidade a responsabilidade de validar se o beneficiário autorizava ou não o desconto.
Para a CGU, esse sistema impedia que os aposentados identificassem previamente qualquer cobrança indevida, pois só podiam perceber o desconto após a primeira retirada, acessando o extrato de pagamento.
Em pesquisa feita com 1.273 pessoas que tiveram valores retidos entre abril e julho de 2024, apenas 52 confirmaram ser filiadas à entidade, e só 31 disseram ter autorizado o desconto.
A Contag, procurada pela Folha, reafirmou posicionamento anterior e declarou atuar “na luta pela garantia, manutenção e ampliação de direitos de mais de 15 milhões de trabalhadores rurais”, entre eles aposentados que, segundo a entidade, “autorizam o desconto da sua contribuição associativa para o Sistema Confederativo”.
Ainda segundo a nota, a confederação reitera “respeito às instituições democráticas e o compromisso com a legalidade”, e que está disposta a colaborar com as investigações, “defendendo a total transparência do processo investigatório e apuração devida dos fatos”. E mais: China divulga chegada de soja brasileira e desafia EUA. Clique AQUI para ver. (Foto: EBC; Fonte: Folha de SP)