Em nova audiência da ação penal que apura a suposta ‘tentativa de golpe de Estado’ no fim do governo Bolsonaro, o Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez um duro alerta às testemunhas de defesa, pedindo que evitassem ‘interpretações pessoais’ ao relatarem os fatos.
O episódio, que ganhou destaque na cobertura do portal UOL, ocorreu durante a oitiva de testemunhas do general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e réu na ação.
“Testemunhas não devem dar suas interpretações pessoais. Eu acho que, para evitarmos a necessidade de interrupções, solicito tanto à PGR quanto às defesas que permaneçamos na análise dos fatos”, afirmou Moraes, conforme mostra a reportagem. O ministro conduz os depoimentos por ser o relator do caso no STF.
O clima tenso da sessão desta segunda-feira (27) teve precedentes. Na semana anterior, Moraes chegou a ameaçar prender o ex-ministro Aldo Rebelo, após considerar que ele desrespeitou as orientações do tribunal.
Outro momento inusitado da audiência de Aldo Rebelo aconteceu quando o procurador-geral da República, Paulo Gonet, deixou escapar um palavrão no microfone, sem perceber que o áudio estava aberto.
Após fazer uma pergunta considerada opinativa à testemunha — o próprio Aldo Rebelo —, o chefe do Ministério Público Federal foi repreendido e pediu para refazer a questão. Na sequência, acreditando que o microfone estava desligado, Gonet desabafou: “Fiz uma c*g*d*”
A pergunta que gerou a reação foi a seguinte: Gonet questionou se Rebelo acreditava que, sem o apoio do Exército, a Marinha teria condições de promover uma ruptura da ordem institucional. A defesa do almirante Almir Garnier, também réu na ação, protestou, alegando que se tratava de um questionamento opinativo de Paulo Gonet.
Entre os temas mais sensíveis da audiência, destacou-se a fala do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, sobre “colocar as tropas à disposição”, uma das peças centrais da denúncia contra Bolsonaro.
O ex-comandantes do Exército e da FAB (Força Aérea Brasileira) disseram que Garnier foi o único chefe das Forças Armadas que demonstrou apoio à proposta.
A defesa do almirante tenta desconstruir essa narrativa e, por isso, os advogados levaram Aldo Rebelo como testemunha. No entanto, seu depoimento foi interrompido por Moraes, que perguntou diretamente se ele havia presenciado a reunião entre Bolsonaro e os comandantes militares. Rebelo respondeu que não, o que levou Moraes a exigir que ele se restringisse aos fatos.
Rebelo então retrucou que “não admitiria censura”, ao que o ministro respondeu que, caso ele não se comportasse, “seria preso por desacato”. Após o embate, a defesa de Garnier retomou os questionamentos sem voltar ao tema.
Em entrevista ao UOL publicada no sábado anterior à audiência, Aldo Rebelo comentou o episódio e criticou a postura do ministro do STF: “Acho que [Moraes] deveria pedir desculpas”, declarou. E acrescentou: “Talvez, não quisesse fazer isso na hora, mas pode fazer depois”.
Rebelo ainda avaliou que houve uma tentativa clara de coação: “Na verdade, o que houve ali foi uma tentativa de intimidação de testemunha”, afirmou. “O juiz pode desconhecer o depoimento, pode não considerar. Agora, como agiu, pressionar testemunha, não.”
A nova rodada de depoimentos acontece em meio ao avanço das investigações contra antigos membros do alto escalão militar e do governo Bolsonaro, acusados de supostamente conspirar contra o resultado das eleições de 2022. E mais: Banco Central anuncia resgate automático de dinheiro esquecido em bancos. Clique AQUI para ver. (Foto: STF; Fonte: UOL)