No final do ano passado, uma matéria da revista VEJA trouxe à tona uma denúncia envolvendo a conselheira do Tribunal de Contas do Piauí, Rejane Dias, esposa do ministro petista do Desenvolvimento Social, Wellington Dias. A denúncia, mantida em sigilo no Superior Tribunal de Justiça (STJ), aborda corrupção passiva, destacando um esquema complexo que inclui locadoras de carros, contratos superfaturados e pagamento de propina. A investigação, que agora teve sua íntegra revelada pela revista, vai além da conselheira. Clique AQUI para ver.
Segundo a reportagem, a Polícia Federal encontrou evidências de que a filha do ministro, o cunhado e o próprio ministro petista estariam envolvidos na trama.
Com 979 páginas, o processo detalha uma parceria criminosa entre o governo do Piauí e empresas prestadoras de serviço, seguindo o roteiro clássico de favorecimento em contratos públicos, com a posterior partilha dos lucros, seja por propina ou contribuições clandestinas para campanhas eleitorais.
O esquema, diz a Veja, teve início em 2008, quando o governador nomeou o professor Luiz Carlos Magno para a superintendência institucional da Secretaria de Educação.
Com essa nomeação, Magno, então militante do PT, ganhou expertise para, em 2009, ao fim do mandato de Wellington Dias, demitir-se, abrir mão do salário e tornar-se sócio em várias locadoras de veículos, usando “laranjas” para ocultar sua participação nos negócios.
Em 2014, quando Wellington Dias se preparava para retornar ao governo do Piauí, a trama ganhou novo impulso. Tanto ele quanto Rejane Dias, então deputada estadual, utilizaram serviços de uma das empresas do ex-professor em suas campanhas eleitorais.
O casal, conforme a reportagem informa, empregou artimanhas semelhantes ao declarar gastos com aluguel de veículos na prestação de contas à Justiça Eleitoral.
Na época, Wellington Dias usava uma caminhonete Hilux. O carro teria sido alugado, conforme os documentos apresentados na prestação de contas da campanha do governador e divulgados pela revista.
Numa das planilhas apreendidas na locadora, porém, o veículo constava como uma “cortesia” da empresa. Ou seja, a campanha não teria desembolsado um mísero centavo pelo aluguel. Na mesma planilha, ainda havia mais três veículos registrados como “cortesia”: um para Rejane Dias, outro para a então candidata a vice-governadora e um terceiro para uma das filhas do casal. Não era uma simples “cortesia”.
Com o retorno de Wellington Dias ao governo em 2015 e a nomeação de Rejane Dias como secretária de Educação, o esquema operou em larga escala.
De acordo com Veja, concursos manipulados garantiram contratos lucrativos para as empresas do ex-professor, totalizando 200 milhões de reais nos anos seguintes. A fiscalização da Controladoria-Geral da União detectou indícios de superfaturamento, levando à atuação da Polícia Federal.
As mensagens encontradas nos computadores da locadora revelaram que a então ex-primeira-dama recebeu mimos como perfumes, joias e alguns “empréstimos” em dinheiro.
Depois da posse do marido, quando o esquema já operava, ela usava dois carrões de luxo, ambos presenteados pela empresa: uma Trailblazer e um Corolla, que custaram R$ 331 mil. A locadora ainda disponibilizou para o cunhado do governador outros dois carros e enviou R$ 100 mil para a conta dele — dinheiro que, para a PF, tinha Rejane Dias como a verdadeira destinatária.
As investigações resultaram na denúncia de mais de quarenta pessoas por crimes como organização criminosa, corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro.
A busca nos endereços dos envolvidos revelou a conexão entre os criminosos e a família do governador, evidenciando a parceria desde a campanha de 2014.
Os dados de geolocalização indicam uma coincidência suspeita nas datas de pagamento dos contratos, revelando um roteiro que envolve idas ao banco, à empresa e à sede do governo piauiense. Embora o ministro Wellington Dias seja citado diversas vezes no relatório da Polícia Federal, não está entre os investigados, informa a reportagem.
O que diz Wellington Dias:
Em nota enviada à Veja, o ministro diz: “Afirmo, categoricamente, que, se existirem 10 pessoas no Brasil classificadas como honestas, Rejane Ribeiro Sousa Dias está entre elas. A presente frase não é retórica política, nem mesmo se afigura como defesa sentimental. Trata-se de uma constatação clara e objetiva de tudo que vivenciamos. Ocorre que, desde a matéria anteriormente publicada relatando a existência de uma denúncia sigilosa, a qual nunca tivemos acesso, percebo que me tornei o alvo das notícias.
Infelizmente, tais ataques a minha honra consubstanciam uma tentativa covarde de macular minha história, utilizando-se do que me é mais caro: minha família. É preciso reiterar que há posicionamento no STF, com parecer do Procurador-Geral da República, pela nulidade do processo na origem, em razão da incompetência do magistrado para apreciar o caso, tal como reconhecido pelo próprio magistrado recentemente. Ratifico que Rejane Ribeiro Dias nunca respondeu a nenhum processo criminal e teve todas as suas contas aprovadas junto aos órgãos de controle e fiscalização. Esta não possui nenhuma condenação junto ao Tribunal de Contas do Estado do Piauí, ao Tribunal de Contas da União, Controladoria Geral da União e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, que são os órgãos que analisam a aplicação do dinheiro público na educação. Em relação a minha pessoa, não tenho nenhuma condenação por quaisquer dos crimes apresentados na matéria. Nunca fui sequer denunciado ou mencionado nos processos citados.
Trago ao conhecimento público que existe uma perícia técnica que demonstra e comprova cabalmente que NUNCA, JAMAIS E, EM HIPÓTESE ALGUMA, estive com empresários realizando qualquer ato inerente a corrupção descrita. Minhas agendas diárias foram expostas, assim como minha rotina, demonstrando o que já fora comprovado pela perícia técnica. É importante frisar que esquecem propositalmente de consignar que o veículo utilizado foi objeto de análise, na prestação de contas. Não houve empréstimo, mimo ou cortesia relativo a estes fatos. Alegar sem provas é crime e as medidas serão tomadas a contento. Eu, minha esposa e filhos, possuímos uma única riqueza que acumulamos ao longo da vida: minha história junto à minha família! Desta, temos orgulho e sabemos que é intangível aos maldosos e maledicentes.
Minha história não pode ser apagada. Pela vontade do povo, exerci, desde 1992, mandatos de vereador de Teresina, deputado estadual e federal, sendo eleito duas vezes senador, a última em 2022. Em meio a todo tipo de covardia, como agora se repete, fui governador do Piauí por 16 anos, ou seja, quatro mandatos, eleito as quarto vezes no primeiro turno! Assim, confio na justiça do meu país e irei, onde a legislação me amparar, recorrer dos crimes que cometem contra mim, minha esposa e minha filha! Para esclarecimento dos fatos, repito: não sou parte de nenhum processo como acusado. A denúncia ainda não foi recebida contra minha esposa. O processo tramita em segredo de justiça, razão pela qual pedirei uma investigação para identificar quem praticou o criminoso vazamento dos autos. Este processo não foi sequer recebido pelo judiciário.
Esta resposta não foi apresentada apenas pela posição que ocupo hoje, mas especialmente em respeito às pessoas que me conhecem e conhecem a minha família! Já enfrentei ataques covardes e criminosos ao longo da vida, mas venci a todos! Deus está no comando sempre: A verdade, mais uma vez, vai vencer!”. (Foto: EBC)