Segundo reportagem publicada hoje pelo jornal Folha de São Paulo, o Ministério da Saúde tem divulgado dados considerados “inconsistentes” sobre a letalidade da dengue em 2024.
O jornal paulista também faz questionamentos sobre a veracidade dos anúncios de repasses a estados e municípios para combater emergências sanitárias, dizendo que a pasta comandada pelo Ministra Nísia Trindade “infla” os anúncios de repasses financeiros.
A pasta tem afirmado que a letalidade da doença neste ano é inferior à de 2023, mas, diz a Folha, utiliza informações que ainda não estão consolidadas para essa comparação. Isso levanta preocupações entre especialistas, especialmente porque mais da metade dos óbitos estão sob investigação.
“A taxa de letalidade, em 0,3% dos casos, ainda é menos da metade do ano passado (0,7%), apesar de uma leve subida em relação à última semana (0,2%). Temos cuidado melhor dos casos, e as pessoas estão mais atentas aos sinais de alerta”, afirmou a ministra da Saúde, Nísia Trindade, em postagem nas redes sociais.
Contudo, especialistas ouvidos pela Folha argumentam que os dados de 2024 não deveriam ser comparados com os de 2023, uma vez que as informações sobre as mortes do ano passado já estão consolidadas. Em 2023, foram confirmadas 1.094 mortes em relação a 1,6 milhão de casos prováveis. Até a última sexta-feira (15), o Brasil já ultrapassou o número de casos prováveis do ano passado e registrou 513 mortes confirmadas, com outras 903 em investigação.
Para um especialista consultado pelo jornal, a postagem da ministra da Saúde foi “infeliz”, pois transmite uma visão fria dos números, ignorando o impacto pessoal das mortes. Ele destaca a importância de uma investigação minuciosa das causas dos óbitos, considerando tanto as características das pessoas quanto a qualidade dos serviços de saúde.
Outro ponto levantado é a demora na atualização dos dados, o que dificulta o acompanhamento preciso da situação não apenas em nível nacional, mas também nos estados e municípios. Segundo informações da reportagem, os dados mais recentes disponíveis na última sexta-feira eram do dia 9 de março.
O Ministério da Saúde justifica a lentidão no processo de investigação dos óbitos, alegando que é um procedimento cuidadoso e demorado, envolvendo a participação dos 5.570 municípios do país. Além disso, ressalta a necessidade de investigações aprofundadas para determinar as verdadeiras causas dos óbitos, considerando a possibilidade de doenças com sintomas semelhantes à dengue, como a febre Oropouche.
Quanto aos repasses anunciados para combate às emergências em saúde, o Ministério da Saúde afirma ter ampliado para R$ 1,5 bilhão a verba disponível, porém, essa cifra ainda não está refletida no orçamento da pasta. Técnicos do próprio ministério, sob anonimato, revelam que o montante anunciado é uma estimativa do que pode ser repassado mensalmente para as emergências em saúde.
Na prática, apenas cerca de R$ 60 milhões foram liberados mais de um mês após o anúncio da verba. O município do Rio de Janeiro foi o principal beneficiado, recebendo R$ 16,2 milhões, seguido pelo Distrito Federal, com R$ 5,5 milhões. (Foto: EBC; Fonte: Folha de SP)
Uma pergunta que me fazem é a conexão das ações do @minsaude com a dengue. A explicação mais direta é que, na saúde, nós temos que olhar o problema como um todo. O que a antecipação da vacinação contra a influenza teria a ver com a dengue, por exemplo? (+)#dengue #Influenza pic.twitter.com/QlVuYu5Cd2
— Nísia Trindade Lima (@nisia_trindade) March 16, 2024