Uma empresa de bufê com sede em Brasília foi apontada pela Polícia Federal como beneficiária de repasses suspeitos feitos pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), entidade investigada por suposto envolvimento em descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS. A apuração foi revelada em reportagem exclusiva do Estadão.
Segundo o jornal paulista, um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou a saída de R$ 26,5 milhões da Contag para 15 contas de sindicatos, empresas e pessoas físicas.
Um dos repasses, no valor de R$ 737,9 mil, teve como destino uma empresa aberta em 2021 e registrada como prestadora de serviços de alimentação e bufê.
A Polícia Federal observou que a criação da empresa ocorreu no mesmo período em que a Contag começou a registrar aumento de arrecadação com os descontos do INSS.
Para os investigadores, conforme a reportagem, os valores transferidos “não têm justificativa aparente e indicam um possível desvio dos valores das mensalidades descontadas dos aposentados”.
A equipe do Estadão visitou o local informado como sede, que ficaa cerca de cinco quilômetros da sede da Contag.
“Na tarde da última quarta-feira, 30, o local estava fechado, com a porta metálica cerrada. Na porta, um papel com o nome da empresa e o telefone estava fixado.”
Vizinhos relataram à reportagem que o endereço não apresenta sinais de funcionamento rotineiro, havendo apenas movimentações esporádicas de retirada de equipamentos.
O jornal ainda informa que, ao ligar para o número indicado, os responsáveis se recusaram a conceder entrevista e indicaram o contato de um advogado, que não retornou.
Conforme publicado pelo Estadão, o proprietário aparece como dono de uma segunda empresa. Ambas usam o mesmo nome fantasia e compartilham os contatos de telefone e e-mail.
Ainda de acordo com o jornal, “uma firma foi inaugurada em 2013. A outra, que recebeu dinheiro da Contag, foi aberta em 2021, e a Polícia Federal suspeita que essa tenha sido usada para movimentar dinheiro desviado da associação.”
Durante as diligências, a PF identificou que os valores recebidos por essa empresa foram fracionados e repassados a outros 10 beneficiários.
Entre eles, conforme o Estadão, “R$ 840 mil para um professor da rede pública do Distrito Federal e R$ 172 mil para uma pessoa que tem um salário de R$ 1,7 mil mensal, ou seja, uma renda incompatível com a quantia recebida”.
O Estadão destaca ainda que a empresa “não só recebeu dinheiro da Contag como transferiu R$ 453 mil para o mesmo sindicato”.
As investigações seguem em curso, com foco em identificar o caminho do dinheiro, os beneficiários finais e se houve, de fato, uso de empresas para ocultar a origem dos recursos provenientes dos descontos indevidos.
Em nota ao Estadão, a Contag negou que tenha praticado qualquer tipo de irregularidade no desconto dos aposentados e pensionistas. A confederação também afirma que alertou o INSS sobre problemas nos descontos.
“A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) vem a público informar que não praticou nenhuma irregularidade em relação ao processamento de descontos de mensalidades associativas nos benefícios previdenciários concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Inclusive, a Contag denunciou ao INSS, por duas vezes, descontos indevidos e práticas abusivas contra aposentados e pensionistas rurais”, diz o texto. E mais: Caixa realização leilão de imóveis com opções a partir de R$ 46 mil. Clique AQUI para ver. (Foto: EBC; Fonte: Estadão)