Em meio à guerra, Ucrânia reinicia campeonato nacional de futebol

direitaonline



Assim que as sirenes do ataque aéreo pararam, os jogadores do Shakhtar Donetsk correram para o campo para seu último treino nesta segunda-feira (22), antes que a Ucrânia comece uma nova temporada extraordinária de sua liga nacional de futebol. As informações são da agência de notícias Reuters.

Enquanto os soldados ucranianos lutam contra as forças russas no leste e no sul, o Shakhtar deve jogar contra o Metalist 1925 da cidade de Kharkiv, no leste do país, no jogo de abertura da Premier League ucraniana, nesta terça-feira (23).

A partida em Kiev começa um dia antes de a Ucrânia marcar seis meses desde que a Rússia invadiu seu vizinho em uma guerra que matou milhares de pessoas, deslocou milhões, destruiu cidades inteiras e ainda continua. “Esta será uma competição única: acontecerá durante uma guerra, durante a agressão militar, durante os bombardeios”, disse Andriy Pavelko, chefe da Associação Ucraniana de Futebol, em entrevista à Reuters.

 

As partidas serão disputadas sem torcedores nas arquibancadas devido ao risco de bombas e mísseis. Dois clubes da primeira divisão (Desna Chernihiv e FC Mariupol) estão sendo substituídos na liga de 16 equipes depois que seus estádios foram destruídos em combates.

Sobre o FC Mariupol, especificamente, o futuro é incerto depois que a Rússia capturou a cidade natal do clube em um brutal cerco de três meses que a Ucrânia diz ter matado mais de 20.000 moradores.

Pavelko disse que grande parte do ímpeto para reiniciar a temporada de futebol nas circunstâncias preocupantes veio do presidente Volodymyr Zelenskiy e do exército ucraniano, que esperam que a liga ajude a elevar o moral nacional. “Muitas pessoas na linha de frente nos pediram para começar a pensar em reiniciar o futebol em nosso país”, disse Pavelko. Ele visitou a Ucrânia em março e abril para convencer os presidentes dos clubes a não deixarem seus times murcharem e prepará-los para uma nova temporada, disse ele.

EXILADO DE DONETSK
O Shakhtar, um dos favoritos ao título deste ano que também disputará a Liga dos Campeões da Europa, não é estranho à guerra: eles tiveram que se mudar de sua cidade natal, Donetsk, em 2014, quando a cidade foi capturada por separatistas apoiados pela Rússia.

A mudança forçada não impediu o sucesso do Shakhtar em campo: desde então, eles conquistaram cinco títulos em oito temporadas.
Eles lideravam a tabela em 24 de fevereiro, quando a temporada parou abruptamente com a invasão da Rússia e a chuva de mísseis.

Durante anos, o Shakhtar, de propriedade do homem mais rico da Ucrânia, Rinat Akhmetov, contou com craques do Brasil, onde o clube construiu uma grande rede de olheiros, para se tornar o núcleo de sua equipe.

 

Após um êxodo de jogadores estrangeiros causado pela guerra, o técnico croata Igor Jovicevic, que foi nomeado em junho, agora está tentando reconstruir o elenco com jogadores jovens e locais. “Durante muito tempo houve um Shakhtar brasileiro, um time de ponta”, disse Jovicevic após o treino do Shakhtar nesta segunda-feira (22). “Mas agora temos que esquecer isso e preparar a nova (equipe) o mais rápido possível”, disse ele.

ABRIGOS
A nova temporada apresenta uma série de desafios logísticos, incluindo o risco de ataques com mísseis. Todos os estádios devem ter abrigos antibombas. Para começar, as partidas serão disputadas apenas em Kiev, na região ao redor e em duas províncias ocidentais próximas à fronteira, embora isso possa mudar de uma hora para a outra, disse Pavelko.

Toda vez que uma sirene de ataque aéreo soa, o que acontece diariamente na maioria das regiões, o jogo será interrompido para que jogadores e árbitros se refugiem em porões até que tudo esteja claro, disse Pavelko.

Isso deixou alguns jogadores, como o meio-campista Taras Stepanenko, do Shakhtar, preocupado com a forma como eles manterão seus músculos aquecidos em jogos que são interrompidos por longas pausas. “Será difícil se durar mais de uma hora. Talvez eles devam montar algumas bicicletas (de treinamento) para nós”, disse Stepanenko.

Oficiais militares estarão presentes em todos os jogos e, se uma sirene de ataque aéreo durar mais de uma hora, eles conversarão com o árbitro para decidir se devem esperar ou adiar completamente a partida, disse Pavelko. Pavelko disse que a guerra não apenas destruiu as instalações, mas também arruinou o futuro de milhares de jovens talentosos jogadores de futebol. “Não se trata apenas de perder estádios. Trata-se de toda uma geração de futebolistas que não poderão desenvolver-se”.


Fonte: Reuters
Foto: reprodução Instagram Shaktar

Gostou? Compartilhe!
Next Post

“Vou lá dar um beijo no Bonner”, diz Bolsonaro ao embarcar para entrevista no Jornal Nacional

Nem humorado, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que irá à bancada do Jornal Nacional, na noite desta segunda-feira (22), “dar um beijo no Bonner”. O pequeno vídeo foi divulgado pelo Ministro das Comunicações, Fábio Faria. “Olha a cara de preocupação do Presidente com a entrevista de hoje no JN”, disse […]