Na acareação realizada no Supremo Tribunal Federal (STF), o tenente-coronel Mauro Cid declarou que avaliou o montante em dinheiro que teria recebido do general Braga Netto com base no “peso da sacola” que lhe foi entregue.
O encontro entre os dois foi promovido a pedido das defesas, para esclarecer divergências em depoimentos sobre a suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Segundo Cid, o acerto da entrega do dinheiro ocorreu durante uma reunião na casa do general, em 12 de novembro de 2022, da qual ele teria saído antes do fim. O encontro teria ocorrido no contexto de articulações para reverter a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com a ata da acareação divulgada pelo STF, “o réu colaborador disse que teria calculado o valor aproximado pelo peso da sacola, mas que em momento algum ela foi aberta”.
Braga Netto, por sua vez, manteve a versão de que “jamais entregou qualquer quantia em dinheiro” a Cid. Durante a sessão, ele afirmou: “Eu não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro para ninguém”.
Apesar disso, o general reconheceu que houve conversas com Cid sobre dinheiro, mas disse que, em sua “cabeça”, os valores discutidos diziam respeito à campanha. Ele explicou: “(Então) falo (ao Cid) assim: ‘Procura o Azevedo, procura o tesoureiro (do PL)’, que era o Azevedo. Eu deixei com o Azevedo, porque eu não sabia (para) o que era (o dinheiro). (Cid) procurou Azevedo. O Azevedo veio mais tarde para mim e falou assim: ‘General, o dinheiro que o Cid quer, está precisando, nós não temos amparo para dar’. Então, eu falei: ‘Morre o assunto’. E morreu o assunto. Na versão de Cid, o dinheiro entregue por Braga Netto teria sido arrumado com ‘o pessoal do agronegócio’. Eu não tinha, como disse ao senhor (Alexandre de Moraes), contato com empresários. Então, eu não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro nenhum para o Cid.”
A ata da audiência relata: “A contradição entre os réus permanece, uma vez que, o réu colaborador reafirma que o réu Braga Netto lhe disse que tentaria obter essa quantia de outro modo em que, posteriormente, teria entregue determinada quantia em dinheiro dentro de uma sacola de vinhos no Palácio do Alvorada. Por sua vez, o réu Braga Netto reafirma que, após a negativa do tesoureiro do PL não tratou mais desse assunto e que jamais entregou qualquer quantia em dinheiro para o réu colaborador”.
Ao sair do Supremo, o advogado José Luis de Oliveira, conhecido como Juca e responsável pela defesa de Braga Netto, declarou:
“O general Braga Netto chamou de mentiroso em duas oportunidades o senhor Mauro Cid, que permaneceu durante todo o ato com a cabeça baixa. Ele (Cid) não retrucou quando teve a oportunidade de falar (…). Mauro Cid se contradisse mais ainda. Estava constrangido, de cabeça baixa”.
Celso Vilardi, advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro, também se manifestou após a sessão: “O delator fez o que ele tem feito reiteradamente. Ele mentiu e, ao meu ver, foi desmoralizado”.
Já a advogada Vânia Bitencourt, que atua na defesa de Cid ao lado de César Bitencourt e Jair Alves Pereira, contestou as acusações de inconsistência: “Cid não se contradisse, manteve as mesmas versões, foram só dois pontos controvertidos. Se ele viu o Cid de cabeça baixa, eu não vi e eu estava do lado do Cid”.
A acareação foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, e também contou com a presença do ministro Luiz Fux e do procurador-geral da República, Paulo Gonet. A audiência teve duração de quase duas horas e terminou pouco depois do meio-dia. Conforme estabelecido pelo STF, não houve gravação da sessão, mas as atas serão disponibilizadas.
A defesa de Braga Netto aponta duas divergências principais entre os relatos de Cid e o general: uma reunião realizada na casa de Braga Netto em novembro de 2022 e a alegada entrega de dinheiro. Juca afirmou que Cid segue apresentando versões diferentes sobre o local da suposta entrega:
“Agora ele trouxe um terceiro lugar que poderia ter sido entregue o dinheiro. Aí uma hora eu perguntei: ‘mas o senhor tem prova disso? Cadê a prova da entrega do dinheiro?’. Aliás, ele não tem prova de nada.” Segundo ele, os locais mencionados seriam duas garagens do Palácio da Alvorada e a sala dos ajudantes de ordens — função ocupada por Cid na época. (Foto: reprodução; Fonte: O Globo)
E mais:
Apoie nosso trabalho!
Edifício “quebra-cabeça” com seis plantas diferentes estreia no Brasil
Braga Netto chama Mauro Cid de “mentiroso” em acareação no STF
Londres terá ponte inspirada em tiara da Rainha Elizabeth II