Quatro anos após a épica entrevista ao Jornal Nacional, em 2018, Jair Bolsonaro retorna à bancada do jornalístico da Globo, nesta segunda-feira (22), a partir das 20h30. Assim como da primeira vez, Willian Bonner e Renata Vasconcelos farão a entrevista com o candidato à reeleição.
O programa entrevistará, ao vivo, os candidatos mais bem colocados nas pesquisas eleitorais. E, por sorteio, o presidente foi o escolhido para abrir a série de sabatinas. A campanha de Bolsonaro solicitou à Globo que a entrevista fosse realizada no Palácio do Planalto, como a Globo fez com os candidatos à reeleição anteriores (Lula e Dilma). Mas para este ano, a Globo mudou as condições e insistiu entrevista Bolsonaro nos estúdios da emissora. A equipe de campanha de Bolsonaro resolveu aceitar as novas regras.
Ao longo da semana, também serão recebidos os candidatos Ciro Gomes, do PDT (23, terça-feira), Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (25, quinta-feira) e Simone Tebet, do PMDB (26, sexta-feira).
Treinamento dispensado
Segundo alguns veículos de imprensa, a campanha do presidente insistiu para que ele se preparasse para a entrevista e passasse por um media training, isto é, um treinamento com assessores antes da conversa com William Bonner e Renata Vasconcellos, apresentadores do jornalístico. No entanto, o presidente teria recusado a oferta.
2018
Quatro anos atrás, Bolsonaro foi ao Jornal Nacional onde respondeu perguntas descabidas, como a desistência de Paulo Guedes no meio do mandato de Bolsonaro, coisa que, como se viu, não aconteceu. Guedes, inclusive já avisou que fica para o segundo mandato.
Aliás, foi sobre essa pergunta que Bolsonaro usou como exemplo o divórcio dele mesmo e de Willian Bonner. “Bonner, quando nós nos casamos, eu com a minha esposa, você com a sua, nós juramos fidelidade eterna. E aconteceu um problema no meio do caminho, que não cabe a ninguém discutir esse assunto. Duvido, pelo que conheço de Paulo Guedes, e passei a conhecê-lo muito mais depois que comecei a conversar com ele, esse descasamento venha, esse divórcio venha a acontecer”.
Outro momento memorável foi quando o então candidato recebeu acusações de Renato Vasconcellos “se solidariza com empregadores que compartilham da desigualdade salarial” e perguntou como ele explicaria isso às mulheres.
Bolsonaro, então, começou a questionar onde Renata havia visto esse comentário. “Renata, você leu isso, ouviu ou viu essa afirmação tua a meu respeito?”, perguntou. “Acho que eu ouvi e li. Ouvi na televisão”, respondeu a âncora. “Não. Você não… Não, me desculpe a senhora não ouviu. Eu nunca…”, interrompeu ele. “Candidato, nós ouvimos. Se o senhor quiser…”, interferiu Bonner. “Foi no programa da Luciana Gimenez?”, perguntou Bolsonaro. “Já existia esse fato em jogo. Ela perguntou para mim, eu falei: ‘É competência’. Daí ela falou: ‘Ó, as mulheres todas são competentes’. Então, a questão de salário é questão de competência… Na CLT já se garante isso”, continuou.
Os apresentadores do Jornal Nacional seguiram interrogando o candidato sobre quais medidas ele tomaria para reduzir a desigualdade salarial, caso interferisse na questão. Bolsonaro reagiu afirmando que o salário de Bonner era “muito maior” que o de Renata. “Eu estou vendo aqui uma senhora e um senhor, eu não sei ao certo, mas com toda certeza há uma diferença salarial aqui, parece que é muito maior para ele do que para a senhora. São cargos semelhantes, semelhantes, são iguais?
A âncora rebateu dizendo que seu salário “não dizia respeito a ninguém” e rejeitou a ideia de que aceitaria receber salário menor do que um homem que cumpre as mesmas funções do que ela: “E eu posso garantir ao senhor, como mulher, que eu jamais aceitaria receber um salário menor de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu. Mas agora eu vou devolver a palavra ao senhor, para o senhor continuar o seu raciocínio”, finalizou a jornalista.
“Pode ter certeza, né? Vocês vivem em grande parte aqui de recursos da União. São bilhões que recebem o sistema Globo, de recursos da propaganda oficial do governo”, reagiu Bolsonaro.
Outro ponto de embate entre candidato e apresentadores aconteceu sobre o assunto “governo militar”. Naquela noite, ao ser questionado novamente sobre o apoio que dava àquele período, Bolsonaro citou mais uma vez o editorial de O Globo, em 1988, em que Roberto Marinho dava apoio ao regime.
“O senhor vai ler isso de novo, candidato”, indagou Bonner. “Vou!”, respondeu Bolsonaro. E leu… “Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais…”.