Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entidade que reúne as principais indústrias desse segmento, acredita que fábricas do ramo, a maioria de porte global, podem deixar o Brasil. A informação é do portal Metrópoles, que conversou com Leite nessa semana.
Segundo ele, os resultados de março até podem ser comemorados, já que produção de veículos aumentou 37% no mês passado, em comparação a fevereiro.
Entretanto, “quando se compara o primeiro trimestre deste ano e o mesmo período de 2022, temos um crescimento de apenas 8% da produção. E o problema é a base de comparação. Ela é muito ruim. O primeiro trimestre do ano passado foi o pior da indústria desde 2004. Na ocasião, o mercado parou por causa da falta de insumos, como os semicondutores (os chips). Agora, o limitador é a falta de demanda.”, explicou.
Nos quatro primeiros meses do ano, as principais montadoras interromperam a produção de novos veículos por falta de compradores. Foram registradas oito paralisações de fábricas e dois cancelamentos de turnos nos primeiros três meses de 2023. “Isso quer dizer que verificamos um crescimento, mas é uma produção muito baixa em relação à média histórica do setor.”, alerta o chefe da Anfavea.
Ainda de acordo com ele, outras fabricantes de carros devem seguir pelo mesmo caminho: “estamos percebendo novos movimentos de algumas montadoras, discutindo paradas com os sindicatos. Esse é um cenário que não mudou. Abril continua sendo um mês com muitos desafios para a indústria.”.
Sobre a saída das montadoras do Brasil, ele acredita que “é o mercado que vai ditar isso. Hoje, ele está muito baixo. Se não trabalharmos para aquecê-lo, vejo isso como algo muito próximo de acontecer. Não tenho dúvida de que, sim, pode acontecer.”.
Além das vendas fracas, ele aponta a concorrência de asiáticos: “Nós tivemos um crescimento das exportações para o Chile e para a Colômbia, mas, agora, elas estão diminuindo. O que vimos foi um aumento da participação de produtos asiáticos nesses países. Então, estamos perdendo competitividade no nosso quintal. Mas isso também está acontecendo no Brasil. Veículos de todos os tipos vindos da Ásia representavam cerca de 2% do mercado nacional há poucos anos. Hoje, eles chegam a 3,5% e 4% do total.”.
“As montadoras que não têm volumes expressivos de produção vão fazer os cálculos. Elas têm de investir em tecnologia e muitas vezes a conta não fecha. Então, esse mercado precisa crescer e dar sinais de recuperação. Coisa que não estamos conseguindo até o momento.”, alerta.
O presidente da Anfavea responsabiliza a ‘alta dos juros’ pelo mercado fraco de novos veículos, apesar de parabenizar ‘a autonomia do Banco Central e a coragem com que ele tem conduzido essa questão. Mas, na nossa visão, os juros estão mais altos do que poderiam estar no Brasil.”.
Ele também propõe planos para o setor, como a liberação do FGTS para a aquisição de novos carros, além de reclamar dos impostos. “Hoje, para um carro que custa R$ de 65 mil, os impostos representam 30% desse valor. Sem eles, o preço cairia para algo como R$ 45 mil.”. E veja também: Novos vídeos de ‘8 de Janeiro’ mostram discussão entre Ministros e Lula nervoso com sujeira. Clique AQUI para ver.