Não basta ter de fazer um bom trabalho e garantir que a inflação não volte, mesmo com um governo federal pouco preocupado com gastos públicos e com um arcabouço fiscal nem um pouco empolgante para substituir o teto de gastos.
Não basta Roberto Campos Neto ter de ouvir e ver, pela imprensa, ataques de Lula e seus ministros contra seu trabalho em relação ao controle da Selic, justamente para evitar que a ferramenta seja usada de forma populista para aumentar consumo e inflar o PIB, mas depois gerando inflação.
Agora, o presidente do Banco Central é obrigado a ouvir também reclamações da ‘elite empresarial’ do Brasil, que ninguém consegue explicar com o que de fato está preocupada: com as metas da empresa ou com o futuro do Brasil.
Hoje, em evento promovido pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), o nome-forte da rede Magazine Luiza, Ana Luiza Trajano, reclamou de forma direta e veemente a Campos Neto sobre a taxa de juros.
“A curva de juros futura teve queda de quase 3% dependendo do prazo que você olha. Isso significa que o mercado está dando credibilidade ao que está sendo feito (pelo governo Lula), o que abre espaço para atuação de política monetária na frente”, disse.
“Eu queria te pedir, por favor: dá um sinal de abaixar esses juros, porque o varejo não está aguentando”, disse a Luiza Helena nesta segunda-feira (12) durante o evento Encontro com Líderes do Varejo do IDV.
As declarações da empresária, da família controladora do Magazine Luiza (MGLU3), vieram na sequência de uma apresentação de Campos Neto sobre a atuação do BC no combate à inflação.
“Se você não der um sinal, nós não vamos aguentar”, acrescentou a empresária. “E não é só 0,25 ponto, não, que é muito pouco”, exigindo também não só o corte como o tamanho do corte.
Ela também disse que “já ligou para ele “mais de 20 vezes” recentemente e que havia mandado muitos recados a Campos Neto sobre a necessidade de a Selic, atualmente em 13,75% ao ano, ser reduzida.
Por mais de uma vez, a empresária pediu “um sinal” a ele sobre a redução da taxa básica. Constrangido, Campos Neto repetiu o que havia dito momentos antes: que não poderia dar certeza sobre o movimento do juro porque ele é apenas um num total de nove votos no Comitê de Política Monetária (Copom).
O presidente do BC e os demais presentes riram. Na sequência, o anfitrião disse que precisava encerrar o evento porque já havia recebido sinais da assessoria de Campos Neto sobre outra agenda dele ainda hoje. “Na hora que aperta, a assessoria manda recado”, disse a empresária fora dos microfones, mas ainda podendo ser ouvida. Ela prometeu ligar para ele mais 20 ou 30 vezes se for necessário. E cobrou a sinalização feita por Campos Neto, que não a deu.
O anfitrião fez sinal de que encerraria o evento e Luiza insistiu: “Não faz isso não, deixa ele dar o sinal”. O presidente do BC disse então que voltaria ao evento em um ano e que tinha a certeza de que a avaliação feita posteriormente sobre o trabalho da autarquia seria reconhecido. “Vai ter muita gente quebrada até lá”, disse a empresária. Assista abaixo a um trecho da ‘pressão’ de Ana Luiza Trajano contra Campos Neto.
“Estamos tendo excesso de produto”, diz Luiza Trajano a Roberto Campos Neto em evento do Instituto para Desenvolvimento do Varejo. Ela cobrou redução de juros do presidente do Banco Central: “Na hora que apertou, os assessores mandam recado”. pic.twitter.com/elPaioe9FD
— O Antagonista (@o_antagonista) June 12, 2023