Uma comissão de especialistas alemães iniciou nessa terça-feira (27) uma operação de busca pelos restos mortais de 46 soldados da Wehrmacht (forças armadas da Alemanha nazista) mortos a tiros no sudoeste da França durante a Segunda Guerra Mundial.
As buscas pela vala comum em uma área perto do vilarejo de Meymac foram desencadeadas pelo testemunho do ex-combatente da Resistência Francesa Edmond Réveil, de 98 anos.
Considerado a última testemunha sobrevivente do movimento de resistência ao nazismo, ele quebrou o silêncio sobre os eventos em maio deste ano.
O testemunho do ex-combatente da Resistência quebrou oito décadas de silêncio para revelar como os alemães foram baleados em uma floresta perto de Meymac, no centro da França.
Edmond Réveil é o último membro sobrevivente da filial local do grupo de resistência FTP (Francs-tireurs et partisans) e testemunhou pessoalmente a execução em massa em um local chamado Le Vert.
Em um depoimento gravado, Réveil descreveu como seu destacamento de 30 combatentes estava escoltando prisioneiros alemães pelo campo a leste de Tulle quando veio a ordem para matá-los.
O comandante do destacamento, cujo codinome era Hannibal, “chorou feito criança quando recebeu a ordem. Mas havia disciplina na Resistência”, lembrou Réveil.
“Ele pediu voluntários para cumprir a ordem. Todo combatente tinha alguém para matar. Mas alguns de nós – e eu era um deles – disseram que não íamos participar. Foi um dia terrivelmente quente. Nós os fizemos cavar suas próprias sepulturas. Eles foram mortos e jogamos cal virgem sobre eles. Lembro que cheirava a sangue. Nunca mais falamos sobre isso.”.
Então, inesperadamente, em 2019, ele se levantou no final de uma reunião local da Associação Nacional de Veteranos e anunciou que tinha algo a dizer.
O prefeito de Meymac, Philippe Brugere, disse à BBC que foi como se um peso tivesse sido tirado da mente de Réveil.
“Ao longo dos anos, ele teve muitas oportunidades de contar a história, e nunca o fez. Mas ele foi a última testemunha. Foi um fardo para ele. Ele sabia que, se não falasse, ninguém jamais saberia.”.
Algumas semanas atrás o caso foi reaberto, e a história foi divulgada no jornal local La Montagne na terça-feira.
Historiadores franceses e alemães confirmaram o esboço dos eventos descritos por Réveil.
Pouco depois do ‘Dia D’, em 6 de junho de 1944, os combatentes da Resistência realizaram uma espécie de levante em Tulle, capital do departamento de Corrèze, durante o qual foram feitos prisioneiros entre 50 e 60 soldados alemães. Mas em 9 de junho os alemães retaliaram com o enforcamento público de 99 reféns.
Não muito longe dali, em 10 de junho, a Divisão SS Das Reich massacrou 643 pessoas na vila de Oradour-sur-Glane, que permaneceu um monumento vazio desde então.
Réveil havia participado do levante de Tulle e depois se juntou ao grupo de escolta que se dirigia para o leste. “Nenhum dos grupos da Resistência queria nada com os prisioneiros. Não sabíamos o que fazer com eles”, lembrou.