Adolfo Sachsida, que integrou o governo do ex-presidente Bolsonaro como ministro de Minas e Energia, publicou em suas redes sociais uma reflexão marcante ao ser perguntado se assistiu ao filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles e agraciado com o Oscar.
Em um texto carregado de emoção e crítica, o economista estabeleceu uma conexão entre a narrativa da produção — que retrata os dramas de uma família durante a ditadura militar — e as histórias de pessoas que, segundo ele, foram injustiçados nas prisões decorrentes dos atos de 8 de janeiro de 2023.
No relato, Sachsida escreveu: “Sim, infelizmente, tenho assistido a esse episódio há mais de um ano”. Ele se colocou no lugar de diferentes figuras afetadas pelo que considera abusos de autoridade, como a viúva de um homem preso e morto na Penitenciária da Papuda, ou um vendedor ambulante detido por engano enquanto trabalhava.
“Eu sou o morador de rua que pedia comida e também fui preso injustamente. Eu ainda estou aqui”, destacou, em um tom que mescla denúncia e empatia.
A crônica de Sachsida reverbera o sentimento de parte da sociedade que questiona a condução das investigações e prisões após aqueles atos nas sedes dos Três Poderes em Brasília.
Sem citar diretamente o enredo do filme, que aborda a luta de Eunice Paiva pelo paradeiro de seu marido, o ex-ministro sugere que o título “Ainda Estou Aqui” ecoa a resistência de quem, na visão dele, segue clamando por justiça em um contexto atual.
O texto, elogiado por sua sensibilidade, reacende o debate sobre os desdobramentos do 8 de janeiro e suas implicações políticas e humanas. Leia abaixo na íntegra.
“Eu ainda estou aqui
Me perguntaram se assisti Ainda Estou Aqui. Minha resposta foi direta:
Sim, infelizmente, tenho assistido a esse episódio há mais de um ano.
Eu sou a viúva de Clezao, preso injustamente e morto na Papuda. Eu ainda estou aqui.
Eu sou Débora, cabeleireira e mãe de dois filhos, que escreveu “Perdeu, Mané” com batom em uma estátua e fui condenada a 17 anos de prisão. Eu ainda estou aqui.
Eu sou o vendedor de algodão doce, que estava na Esplanada dos Ministérios trabalhando no dia 8 de janeiro e fui preso por engano. Eu ainda estou aqui.
Eu sou o morador de rua que pedia comida e também fui preso injustamente. Eu ainda estou aqui.
Eu sou o autista que trabalha em um lixão e que, por estar presente no dia 8 de janeiro, sou obrigado a usar tornozeleira eletrônica. Eu ainda estou aqui.
Eu sou Felipe Martins, preso injustamente por seis meses por uma viagem que nuncafiz (e que, mesmo se tivesse feito, não seria crime). Eu ainda estou aqui.
Eu sou a mãe de seis filhos e esposa de um caminhoneiro que viajou a Brasília para entregar mercadorias. Enquanto esperava o caminhão ser carregado, meu marido foi à Esplanada e hoje está condenado a mais de 15 anos de cadeia. Eu ainda estou aqui.
Eu sou uma menina de 3 anos. Eu sou um menino de 6. Somos crianças órfãs de pais vivos. Nossos pais nunca pegaram em armas, nunca cometeram crime algum, mas hoje estão condenados a mais de 15 anos de prisão. Nós ainda estamos aqui.
Eu sou um brasileiro comum, que vê a classe artística e os jornalistas serem TIGRÃOcom uma ditadura que acabou há 40 anos, mas TCHUTCHUCA diante dos desmandos que acontecem hoje no Brasil. Eu ainda estou aqui.
Eu sou um advogado, chocado com o silêncio ensurdecedor da OAB diante de tantos absurdos jurídicos, condenações e penas desproporcionais. Eu ainda estou aqui.
Eu sou um brasileiro comum, que hoje tem medo de escrever um texto na internet criticando uma autoridade pública, temendo ser preso por crimes que não existem.
Eu ainda estou aqui.”
Eu ainda estou aqui
Me perguntaram se assisti Ainda Estou Aqui. Minha resposta foi direta:
Sim, infelizmente, tenho assistido a esse episódio há mais de um ano.
Eu sou a viúva de Clezao, preso injustamente e morto na Papuda. Eu ainda estou aqui.
Eu sou Débora, cabeleireira e mãe…— Adolfo Sachsida (@ASachsida) March 3, 2025