Zelenski cobra Lula e questiona: “por que Brasil está ao lado do agressor?”

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O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, expressou perplexidade em relação à posição do Brasil sobre o conflito entre a Ucrânia e a Rússia durante uma entrevista realizada em Kiev nesta quinta-feira (30). Em conversa com um grupo de jornalistas da América Latina, Zelenski afirmou: “Não entendo, não entendo”. A reportagem é da Folha de SP.

Ele questionou diretamente: “Diga: por acaso, presidente Lula, por acaso não quer ter essa aliança? Por acaso o Brasil está mais alinhado com a Rússia do que com a Ucrânia? A Rússia nos atacou. O Brasil tem de estar do nosso lado e dar um ultimato ao agressor, em nome do resto do mundo. Uma amizade com alguém que tem uma ideologia e uma visão fascistas não pode trazer benefícios”.

A entrevista ocorreu na Casa das Quimeras, um edifício histórico em Kiev, conhecido por sua arquitetura ‘art nouveau’ e suas decorações com sereias, rinocerontes e crocodilos de concreto, projetado por Władisław Horodecki, frequentemente comparado a Gaudí.

Este cenário icônico serviu como palco para a entrevista, que aconteceu às vésperas de uma importante cúpula de paz na Suíça, para a qual foram convidados 160 países. Entre os líderes que confirmaram presença no evento, que acontecerá em Lucerna nos dias 15 e 16, estão o presidente libertário argentino, Javier Milei, e o presidente socialista chileno, Gabriel Boric.

Por outro lado, a Bloomberg noticiou que o Brasil não planeja enviar representantes de alto escalão à cúpula. Na semana anterior, Celso Amorim, assessor especial de Lula para a política externa, e o chanceler chinês, Wang Yi, emitiram um comunicado destacando a necessidade da presença de Moscou em qualquer negociação sobre o conflito.

Sobre isso, Zelenski reagiu a essa posição com indignação: “Por quê?, se somos nós os atacados?”, questionou ele aos jornalistas, prosseguindo: “Por que o Brasil e a China pensam primeiro nos russos e depois em nós? Como podem dar vantagem aos países que atentam contra outros e priorizar essa aliança com o verdadeiro agressor?”

Em contraste com seu tom crítico em relação ao Brasil, Zelenski elogiou as relações com a Argentina e o Chile, cujos líderes manifestaram apoio público à Ucrânia. Ele destacou que o mais importante não é necessariamente a colaboração material de seus aliados, mas “sua solidariedade”. Essa diferença de postura reflete a frustração de Zelenski com a diplomacia brasileira e chinesa, enquanto valoriza a solidariedade demonstrada por outros países latino-americanos.

A entrevista de Zelenski ilustra a complexidade das relações internacionais em torno do conflito ucraniano, onde cada país adota uma posição que reflete seus próprios interesses e alianças estratégicas.

Como parte do esforço para convencer Brasília a participar da cúpula de paz na Suíça, os organizadores argumentaram que, apesar do evento ter sido convocado a pedido de Kiev, a condução das negociações ficaria sob responsabilidade da Suíça.

Por outro lado, os suíços enfatizam que o plano de paz ucraniano, que exige que os russos deixem todas as áreas ocupadas, incluindo a Crimeia, não seria o foco central das tratativas. Eles também declararam que estão convencidos da necessidade de envolvimento do Kremlin nas negociações, mas que os russos não foram convidados para a cúpula devido ao seu desinteresse manifestado em diversas ocasiões.

No entanto, integrantes do governo brasileiro consideram que qualquer proposta de negociação baseada no plano de Zelenski é inviável, pois inclui exigências inaceitáveis para Vladimir Putin, como a saída da Crimeia e a criação de um tribunal para julgar supostos crimes de guerra cometidos pelo Exército russo.

Além disso, há pensamentos no governo petista de que o processo se torne uma repetição de esforços anteriores de negociação, considerados ‘improdutivos’. Por exemplo, uma reunião sobre o tema na Dinamarca no ano passado foi vista como um fracasso por desconsiderar as posições de nações com diferentes opiniões, incluindo o Brasil.

A cobrança por um posicionamento mais enfático de Brasília em favor de Kiev foi reiterada por diversas figuras, como o chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, e o primeiro-ministro, Denis Chmigal. “Todas as soluções estão nas mãos do presidente Lula. Que papel ele assumirá como ator político internacional?”, questionou Chmigal na segunda-feira (27). Ele acrescentou que a Ucrânia espera um convite para a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, em novembro.

Quando questionado pelos jornalistas da recente coletiva sobre o que seria necessário para que Brasília se alinhasse com Kiev, Chmigal respondeu que o Brasil precisa “entender as consequências de uma derrota ucraniana”.

Ele alertou: “Isso significaria que qualquer país, em qualquer continente, que detenha certo território tem grande possibilidade de ser suprimido por um país grande”. Chmigal enfatizou que o mundo pode ser ajudado ao deter um agressor e mostrar que ele está isolado dos demais, em vez de jogar o “jogo diplomático” e lançar declarações vazias. A verdadeira ajuda, segundo ele, é impedir a agressão e demonstrar solidariedade global contra ações imperialistas. (Foto: reprodução redes sociais; Fonte: Folha de SP)

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