Num cenário global cada vez mais volátil e diante dos riscos persistentes da economia brasileira, diversificar os investimentos deixou de ser apenas uma sugestão para se tornar uma necessidade estratégica. Pensando nisso, a XP decidiu orientar todos os perfis de investidores — até os mais conservadores — a direcionarem parte de seu patrimônio diretamente para o exterior, via conta internacional. Pela primeira vez, a instituição passou a recomendar um percentual mínimo: 15%.
Segundo reportagem do Valor Investe, a nova diretriz parte da equipe de alocação da XP e detalha como essa fatia deve ser distribuída: 55% em renda fixa internacional (sendo 42% em títulos soberanos e 13% em papéis corporativos), 40% em renda variável — com destaque para ações americanas, que devem ocupar 60% deste segmento —, 5,5% em ativos alternativos e 2% em fundos com liquidez imediata, como os money markets.
Rodrigo Sgavioli, diretor de alocação da XP, defende que o investidor conservador tem muito a ganhar com essa estratégia, principalmente pela proteção proporcionada pelo dólar.
“A moeda tem uma correlação negativa com a carteira de investimentos no Brasil, enquanto produtos de renda fixa estão correlacionados. Acredito que seja um sonho para o investidor conservador verificar que sua carteira pode chacoalhar em direções opostas: quando parte dela desvaloriza, a outra ganha, e vice versa”, afirmou.
Sgavioli também chama atenção para o fato de o Brasil representar apenas 2% do mercado financeiro global. “Quem investe apenas no Brasil está deixando 98% das aplicações na mesa, o que é preocupante se considerarmos que estamos em um mundo em transformação. E está torcendo para o Brasil, um país com economia cíclica, dar sempre certo”, completou.
Mesmo diante de um dólar valorizado e de uma possível correção nos mercados americanos, ele sustenta que o momento é oportuno para começar, ainda que com cautela. “Ocorreu uma bolha nos anos 2000. Mas dez anos depois grandes empresas de tecnologia, como Google e Meta, se tornaram as mais valiosas do mundo. A bolsa americana pode estar passando por um vai e vem maior, mas estruturalmente deve continuar relevante”.
Quanto ao câmbio, Sgavioli sugere uma abordagem gradual. “Como ninguém sabe para onde caminha, o melhor a fazer é investir aos poucos, de forma a pegar uma cotação mais aceitável, como se faz na compra de moeda para viagens”, explicou.
Ele também desmistifica a ideia de que só quem tem dinheiro fora ou filhos estudando no exterior deve pensar nessa alternativa. “Nosso consumo aqui é dolarizado. Investir lá fora, portanto, é um meio de se proteger da inflação por aqui. Caso o investidor tenha objetivos de viver fora, a fatia de investimentos no exterior deve ser maior. A fatia de 15% é o mínimo que ele deve ter apenas para se proteger do risco do Brasil e da alta dos preços”.
A XP continuará indicando parte da carteira brasileira para produtos internacionais — mas nesses casos, sem exposição cambial, ou seja, com retorno atrelado ao real. A proposta, segundo Sgavioli, é separar completamente os dois mundos para evitar comparações com o CDI, referência local que costuma desestimular a diversificação.