Os ministros de Energia da União Europeia concordaram, nesta segunda-feira (19), com um teto para o preço do gás, depois de semanas de negociações sobre a medida de emergência que dividiu opiniões em todo o bloco enquanto busca domar a crise de energia. Representantes do setor e países contrários se mostraram preocupados e dizem que medida pode piorar, ao longo prazo, a crise energética no continente europeu.
O limite é a mais recente tentativa dos 27 países da UE de reduzir os preços do gás, que elevou as contas de energia dos cidadãos e levou a uma inflação recorde este ano, depois que a Rússia cortou a maior parte de seu fornecimento para a Europa.
O mecanismo só será ativado mediante duas condições: sempre que a cotação no índice TTF ficar acima dos 180 euros por megawatt hora durante mais de três dias úteis consecutivos e se a diferença entre o teto e o preço médio do gás natural liquefeito global for superior a 35 euros. O limite pode ser acionado a partir de 15 de fevereiro de 2023. O acordo será formalmente aprovado pelos países por escrito, após o que poderá entrar em vigor.
“Conseguimos encontrar um acordo importante que protegerá os cidadãos da disparada dos preços da energia”, disse Jozef Sikela, ministro da indústria da República Tcheca, que ocupa a presidência rotativa da UE.
O primeiro-ministro da Polônia disse que o limite de preço acabaria com a capacidade da Rússia e da Gazprom de distorcer o mercado. “Nas recentes reuniões em Bruxelas, nossa coalizão majoritária conseguiu quebrar a resistência – principalmente da Alemanha. Isso significa o fim da manipulação de mercado pela Rússia e sua empresa Gazprom”, escreveu Mateusz Morawiecki no Twitter.
A Alemanha votou a favor do acordo, apesar de ter levantado preocupações sobre o impacto da política na capacidade da Europa de atrair suprimentos de gás em mercados globais competitivos em preços.
Os preços crescentes da energia e do gás abalaram as empresas de energia em toda a Europa, forçando concessionárias e comerciantes a garantir fundos extras de governos e bancos para cobrir prejuízos. A Uniper da Alemanha, por exemplo, registrou perdas de bilhões de euros em derivativos, exacerbando uma crise ao se apressar para preencher a lacuna deixada depois que a Rússia cortou os suprimentos.
Apenas a Hungria votou contra o teto de preço. A Holanda e a Áustria abstiveram-se. Ambos resistiram ao limite durante as negociações, temendo que isso pudesse atrapalhar os mercados de energia da Europa e comprometer a segurança energética da Europa.
O ministro da energia holandês, Rob Jetten, disse: “Apesar do progresso nas últimas semanas, o mecanismo de correção do mercado permanece potencialmente inseguro. Continuo preocupado com as grandes perturbações no mercado europeu de energia, com as implicações financeiras e, acima de tudo, estou preocupado com a segurança do abastecimento europeu”, acrescentou.
A proposta da UE também atraiu a oposição de alguns participantes do mercado, que disseram que poderia causar instabilidade financeira.
A Intercontinental Exchange, que hospeda a negociação de TTF em sua bolsa de Amsterdã, disse na semana passada que poderia mover a negociação de TTF para fora da UE se o bloco limitasse os preços. Hoje, alertou que avaliará se pode continuar a operar mercados justos e ordenados para o comércio gás europeu.
Enquanto isso, o porta-voz do Kremlin da Rússia, Dmitry Peskov, disse que o limite era um ataque aos preços de mercado e inaceitável, informou a agência de notícias russa Interfax.
O acordo ocorre após meses de debate sobre a ideia e duas reuniões de emergência anteriores que não conseguiram fechar um acordo entre os países da UE que discordavam sobre se um teto de preço ajudaria ou atrapalharia as tentativas da Europa de conter a crise energética.
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