O Tesouro Direto ultrapassou a marca de três milhões de investidores em fevereiro, e o governo quer chegar perto dos cinco milhões até o fim de 2025. Para isso, prepara o lançamento de um novo título e outras mudanças que buscam atrair o ‘pequeno investidor’.
Em entrevista ao Valor Investe, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, antecipou que um novo produto deve ser lançado ainda este ano.
Chamado provisoriamente de “poupança de emergência”, o título será pós-fixado, com rendimento atrelado à taxa básica de juros, semelhante ao Tesouro Selic, mas com formato mais simples e valor mínimo de aplicação menor que os atuais R$ 160.
Outra medida em estudo é a liberação do uso do dinheiro do programa Pé-de-Meia, voltado a estudantes do ensino médio da rede pública, para investir em títulos públicos por meio do Tesouro Direto. Atualmente, o valor fica guardado em uma conta-poupança até a formatura.
Ceron também comentou os principais desafios da área, como a alta nas taxas dos títulos públicos, o número recorde de resgates antecipados em 2024, a dificuldade de acesso ao Tesouro Direto nas plataformas dos grandes bancos e a ampliação do horário de negociação para 24 horas por dia, sete dias por semana, prevista para o segundo semestre. Veja trechos a seguir!
Valor Investe: O Tesouro Direito ainda é complicado para muita gente. Alguns investidores acabam saindo no meio do caminho, seja por causa da necessidade de caixa, seja por se assustarem com a queda do papel. O Tesouro pensa em alguma forma de educação financeira?
Ceron: Devemos lançar a “poupança de emergência”, ainda não temos um nome oficial, mas a ideia é justamente que o papel [pós-fixado] seja mais simples de ser entendido e mais acessível financeiramente para o pequeno investidor, até mais do que o Tesouro Selic. Esse novo produto deve ter aplicação mínima inferior aos R$ 160 do título atrelado à Selic.
Se você vai fazer uma reserva de emergência, não deve comprar um RendA+ porque, se precisar vender antes do vencimento, pode acabar perdendo dinheiro. No ano passado, a gente realizou várias iniciativas. A mais relevante foi a Olimpíada de Educação Financeira, a OLITEF. Nós levamos a educação financeira para as escolas públicas e privadas, focando bastante no ensino médio.
É muito mais fácil você formar as crianças, do que corrigir o percurso dos adultos. Claro que a gente também tem as iniciativas para os mais velhos, como esses papéis específicos para aposentadoria, por exemplo, mas a gente está focando muito nos jovens.
Valor Investe: O Tesouro lançou primeiro o RendA+, para complementar a aposentadoria, depois o Educa+, para auxiliar na educação de jovens no futuro. Mas os dois títulos parecem crescer em um ritmo mais lento. O senhor acredita que os papéis não “pegaram”?
Ceron: Como qualquer produto, eles têm um ciclo de vida. As taxas de crescimento, tanto do RendA+ quanto do Educa+ estão ótimas. É difícil encontrar, no mercado, um produto que em um ano tenha atingido centenas de milhares de investidores. Certamente eu quero que vá melhor, mas estamos contentes com os números.
Valor Investe: Em 2024, o Tesouro registrou recorde de resgate antecipado. Desses, 62% foram de papéis do Tesouro Selic, 24% do Tesouro IPCA+ e 14% do Tesouro Prefixado. A que o senhor atribui isso? O Tesouro tem feito algo para mudar esse cenário?
Ceron: O que vimos de movimentos mais consistentes, é que os resgates do Tesouro Selic estiveram muito associados a um reposicionamento estratégico. Os títulos mais longos do Tesouro RendA+ explodiram em número de investidores e volume. O investidor que tem um pouco mais de conhecimento financeiro, quando a taxa de juros subiu, viu uma oportunidade de resgatar o Tesouro Selic e comprar o Tesouro RendA+ porque achava que a taxa poderia cair de novo. Taxa de juros acima da inflação de longo prazo, de mais de 7% ao ano, no Brasil, vai ser por pouco tempo.