Um conjunto de 20 cadernos apreendidos pela Polícia Federal (PF) no escritório do chamado “Careca do INSS” é tratado internamente como a principal descoberta da primeira fase da investigação sobre fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social. A revelação foi feita em reportagem exclusiva da colunista Malu Gaspar, de O Globo.
Conforme a jornalista, os cadernos de brochura e capa dura, preenchidos diariamente por uma secretária do operador do esquema, contêm registros detalhados sobre pagamentos e movimentações financeiras ligados à quadrilha investigada.
Segundo a PF, o “Careca do INSS” atuava como o elo entre entidades suspeitas de fraude e funcionários do INSS, sendo responsável por distribuir propinas para garantir a continuidade dos descontos ilegais em aposentadorias.
De acordo com a coluna, os investigadores consideram esse material uma espécie de “mapa” para alcançar os próximos níveis hierárquicos da organização criminosa. “Detalhista, a secretária sempre anotava no alto das páginas a data e as porcentagens devidas a cada integrante do esquema”, escreveu Malu Gaspar.
Entre os registros, há menções diretas a nomes que a PF acredita identificar participantes do esquema. “Graças a ela, a PF encontrou nos cadernos anotações como ‘Virgilio 5%’ e ‘Stefa 5%’”, que os agentes acreditam corresponder a pagamentos feitos a possíveis integrantes de um esquema de fraudes, informou a colunista.
Ainda segundo a reportagem, os investigadores apuraram que ex-diretores do INSS e pessoas próximas a eles teriam recebido mais de R$ 17 milhões em repasses. Esses valores teriam vindo de entidades sindicais e empresas que fraudaram autorizações para descontar mensalmente valores das aposentadorias, sob o pretexto de oferecer seguros e serviços — valores que, na prática, eram desviados.
A dimensão do esquema surpreende. Conforme a PF, desde 2019, cerca de R$ 6,3 bilhões teriam sido desviados de ao menos 4 milhões de aposentados.
“Segundo a representação da polícia, só o ‘Careca do INSS’ movimentou diretamente R$ 53,5 milhões provenientes de entidades sindicais e de empresas relacionadas às associações que fraudaram autorizações”, diz o texto.
A colunista ainda detalha o patrimônio acumulado pelo operador, que nunca foi servidor público. “De acordo com a PF, o ‘Careca’ é dono de uma frota de 12 carros de luxo, como Porsche e BMW. Ele também tem imóveis em São Paulo e em Brasília, incluindo uma casa no Lago Sul, bairro nobre da capital federal — que ele teria comprado à vista, no valor de R$ 3,3 milhões”, conforme os documentos da investigação.
Apesar do apelido, o investigado jamais integrou oficialmente os quadros do INSS. No entanto, conforme a apuração da PF reproduzida por Malu Gaspar, ele constituiu empresas em períodos coincidentes com os repasses oriundos das entidades associativas.
Procurada pela jornalista, a defesa do “Careca do INSS” negou qualquer envolvimento com o esquema. “A defesa confia plenamente na apuração dos elementos constantes nos autos e na atuação das instituições do Estado Democrático de Direito. Ao longo do processo, a inocência será devidamente comprovada”, declarou em nota.
A PF espera que, com o conteúdo dos cadernos, seja possível não apenas aprofundar o envolvimento de personagens já citados nas investigações, como também identificar novos beneficiários do esquema fraudulento que sangrou os cofres de milhões de aposentados brasileiros. E mais: Empresa alvo da PF por uso de laranjas fecha contrato milionário com Governo Lula. Clique AQUI para ver. (Foto: EBC; Fonte: O Globo)