Para Mercadante, é impossível reerguer a indústria nacional se não tiver a mão do estado

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O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante (PT), argumentou nesta segunda-feira (22) que não há como reerguer a indústria brasileira sem uma nova relação entre Estado e mercado. Entretanto, é importante observar que ao longo da história, vários países alcançaram sucesso industrial sem depender fortemente da intervenção estatal.

“Nós não temos como reerguer a indústria brasileira sem uma nova relação entre Estado e mercado. Não é substituir o mercado, não é não acreditar na importância do mercado, que é uma instituição indispensável no desenvolvimento econômico. Mas o Brasil precisa, diante dos desafios históricos, da transição digital acelerada e do imenso desafio que é essa crise ambiental”, disse Mercadante.

Em diversas nações, a ausência de uma intervenção estatal excessiva proporcionou ambientes propícios ao desenvolvimento industrial. Um exemplo notável é a Revolução Industrial no século XIX, onde países como Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha alcançaram notável crescimento industrial sem uma presença estatal dominante.

Esses casos históricos contradizem a afirmação de que não é possível reerguer a indústria sem uma nova relação entre Estado e mercado. É justamente quando o índice de liberdade econômica dessas nações vai se reduzindo que o desenvolvimento é freado, ainda que avance ao a ano.

Além disso, há exemplos contemporâneos de nações que experimentaram crescimento industrial significativo com ênfase na livre iniciativa e no mercado. Singapura e Hong Kong são dois casos notáveis na Ásia, que, por meio de políticas favoráveis aos negócios, alcançaram desenvolvimento industrial notável sem depender substancialmente da intervenção estatal.

Mercadante também disse que o Brasil precisa de uma transição digital acelerada e que a transição para economia verde depende da participação do Estado, pois é mais caro desenvolver novas tecnologias.

Contudo, esse argumento de Mercadante também é, no mínimo, questionável. Muitas vezes, a inovação e o avanço tecnológico ocorreram de forma mais eficaz em ambientes onde a iniciativa privada teve espaço para prosperar, sem depender excessivamente do governo.

O presidente do BNDES participou do lançamento da nova política industrial do país, chamada “Nova Indústria Brasil”, em evento no Palácio do Planalto. Serão disponibilizados até R$ 300 bilhões em financiamentos até 2026, que, diz Mercadante, é só o piso, pois seu objetivo é injetar mais ‘investimento’ neste setor da econômica.

Em seu discurso, Lula também afirmou que a verba disponível é um “alento” para que o país saia do patamar em que se encontra e dê um “salto de qualidade”. Ele cobrou dos ministros um acompanhamento para garantir o cumprimento das ações previstas.

O lançamento da “Nova Indústria Brasil” com um financiamento substancial de até R$ 300 bilhões até 2026 foi bastante criticada na imprensa brasileira nesta terça-feira (23). Muitos analistas consideram que o projeto nada mais é do que ideias velhas com viés socialista vestindo uma roupa moderna.

Como já provado, experiências internacionais ao longo das décadas sugerem que uma abordagem equilibrada entre Estado e mercado (mas sempre com mais livre mercado) pode ser mais eficaz para impulsionar a indústria; como redução de impostos, desburocratização, flexibilização de legislações anacrônicas, melhora do ambiente de negócio, redução das amarras trabalhistas, entre outras.

Assista abaixo à fala de Mercadante, que já no começo do discurso cita China e Estados Unidos como exemplo de investimento estatal, o que tem uma base factual, mas é importante contextualizar e considerar nuances.
No caso da China, algumas críticas apontam para a distorção do mercado, gerando excesso de capacidade em determinadas indústrias e criando concorrência desleal em nível global.

Outro ponto é que é até incoerente o argumento do presidente do BNES justamente porque, para ser a potência econômica de hoje, a China abandonou a pobreza justamente adotando práticas de liberalismo econômico.

A transformação econômica significativa na China começou nas últimas décadas do século XX, quando o país implementou reformas econômicas lideradas por Deng Xiaoping. Essas reformas introduziram elementos de economia de mercado, abrindo setores para a iniciativa privada, incentivando o investimento estrangeiro e permitindo a criação de empresas privadas.

Outro ponto é que o país, que já bateu 14,2% de crescimento anual do PIB (2007), marcou 5% em 2023. Não que seja um mau resultado, mas a crítica que se faz é que desde o governo de Xi Jiping, que acelerou o papel do estado na economia que o PIB já não é mais como foi um dia.

E sobre os Estados Unidos, o país de fato tem subsídios e investimentos públicos para impulsionar a inovação e o desenvolvimento industrial. Isso inclui programas governamentais de pesquisa, desenvolvimento e incentivos fiscais para setores estratégicos.

Contudo, embora os Estados Unidos tenham investido em setores específicos, o modelo econômico americano também valoriza fortemente (e muito mais) a iniciativa privada e a competição de mercado, coisa que Mercadante parece desconsiderar. (Foto: Agência Brasil)

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