O Papa Francisco nomeará no dia 27 de agosto o primeiro cardeal da região amazônica do Brasil. O pontífice tomou a decisão em um sinal de sua “preocupação” com a floresta tropical e seus habitantes indígenas, disse o homem que a Santidade escolheu para o papel.
Dom Leonardo Steiner, arcebispo da cidade de Manaus, disse em entrevista que Francisco, o primeiro papa da América Latina, está preocupado com o “desmatamento, ameaças às culturas indígenas e poluição dos rios com mercúrio usado por garimpeiros na Amazônia”.
A nomeação de um cardeal da Amazônia mostra o desejo do papa de aproximar a Igreja da Amazônia”, disse Steiner na semana passada. Steiner estará entre os 21 novos cardeais que o Papa Francisco nomeará em 27 de agosto em uma cerimônia conhecida como consistório.
Steiner disse que as comunidades indígenas reclamam que os missionários evangélicos muitas vezes prejudicam os rituais tradicionais, canções e até mesmo suas línguas. “Isso muitas vezes resulta no desenraizamento da cultura dos povos indígenas e sua maneira diferente de ver o mundo”, disse Steiner.
A Igreja Católica foi culpada disso no passado, mas agora defende a preservação das culturas indígenas, disse ele. Steiner lembrou as desculpas públicas do papa no Canadá na semana passada sobre esse assunto. “Devemos garantir que os indígenas não percam suas raízes e sempre bebam de suas próprias fontes”, disse.
Francisco realizou um sínodo, uma sessão de consulta e diálogo sobre a Amazônia em 2019. Em junho, ele se reuniu no Vaticano com os bispos dos estados amazônicos do Brasil, juntamente com padres, freiras e leigos da região. O papa os encorajou a se envolver com as comunidades locais, disse Steiner, incluindo os habitantes originais da floresta e tribos que tiveram pouco contato com o resto do Brasil.
Em junho deste ano, em entrevista ao jornal da Folha de São Paulo, Dom Leonardo Steiner criticou a atuação do presidente Bolsonaro em relação ao garimpo na Amazônia. “Para os donos do garimpo, não importa a vida dos outros, as pessoas, os povos. O que importa é o ouro, o dinheiro. Nada mais interessa. O governo tem colaborado nessa destruição, pois poderia proteger, mas não fiscaliza, não protege, ataca as instituições. As atitudes e falas têm incentivado o garimpo e deixado comunidades indígenas desprotegidas. Perdeu-se o horizonte da ética nas relações e, por isso, a justiça”, disse ele.