Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), Samuel Pessôa tem uma visão mais pessimista sobre o cenário econômico do Brasil em comparação à agência de classificação de risco Moody’s.
No início desta semana, a Moody’s manteve o Brasil a apenas um passo do grau de investimento, mas, na avaliação de Pessôa, esse nível está longe de ser alcançado.
Em entrevista ao Estadão, o economista expressou sua expectativa de que a Moody’s poderá rebaixar a nota de crédito do Brasil nos próximos dois ou três anos. “Acredito que a decisão atual será revertida. Minha impressão é que a Moody’s rebaixará o Brasil em um futuro próximo”, afirmou.
Pessôa aponta para diversos desequilíbrios na economia brasileira, especialmente no que se refere à sustentabilidade do crescimento econômico e ao aumento da dívida pública. Para ele, esses fatores tornam o cenário econômico do país insustentável a médio prazo. No entanto, ele acredita que o governo conseguirá adiar maiores complicações até as eleições de 2026. “Será possível empurrar com a barriga até lá”, disse.
Segundo o pesquisador, sua perspectiva negativa não se baseia tanto na “foto” atual da economia, mas sim no “filme”, ou seja, na tendência que ele observa para os próximos anos. “A insustentabilidade não se aplica ao momento presente, mas ao desenvolvimento ao longo do tempo”, concluiu Pessôa, reforçando seu alerta sobre os riscos que o Brasil pode enfrentar no futuro econômico.
Seu trabalho é amplamente reconhecido e influencia diretamente o mercado financeiro global, já que suas classificações ajudam investidores a tomarem decisões informadas sobre riscos. A credibilidade da Moody’s está associada à precisão de suas análises e ao seu papel como uma das “Três Grandes” agências de rating, ao lado da S&P Global Ratings e Fitch Ratings. Veja abaixo trechos da entrevista e clique AQUI para ver na íntegra.
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), Samuel Pessôa tem uma avaliação mais negativa do desempenho econômico do Brasil do que a agência de classificação de risco Moody’s – que deixou o País a um passo do grau de investimento.
“O grau de investimento é super distante. Acho que a Moody’s vai rebaixar o Brasil daqui a uns dois ou três anos. Devem reverter a decisão que eles tomaram. É a minha impressão”, afirma, em entrevista ao Estadão.
Pessôa enxerga uma série desequilíbrios na economia brasileira que tornam o crescimento econômico e da dívida pública insustentáveis. Mas avalia que será possível “empurrar com a barriga até o processo eleitoral” de 2026.
“É (uma visão) mais negativa. Não tanto pela foto do País, mas o filme é ruim. Quando a gente fala sobre a insustentabilidade, ela não necessariamente se aplica à foto, mas se aplica ao filme”, afirma Pessôa. Veja abaixo trechos da entrevista e clique AQUI para ver na íntegra no Estadão. (Foto: reprodução vídeo; Fonte: Estadão)
Qual é a avaliação do sr. sobre a decisão da Moodys?
A decisão é muito baseada numa perspectiva de atividade melhor, num crescimento melhor e na avaliação de que o arcabouço fiscal, num prazo razoável, vai conseguir encaminhar os nossos desequilíbrios fiscais. Essas são as avaliações que os economistas da Moody’s fizeram. Acho que é uma avaliação legitima, mas eu, em particular, discordo. E discordo dos dois pontos.
Por que o sr. discorda?
É verdade que o crescimento brasileiro está bem melhor do que se imaginava, mas, no meu entender, é um crescimento insustentável. É uma espécie de economia em marcha forçada – para a usar o título de um livro famoso nos anos 1980 sobre a economia brasileira no governo Geisel. O que significa? Significa que a gente está crescendo bem, mas esse crescimento é turbinado por gastos públicos. E é insustentável porque estamos no pleno emprego. Portanto, um crescimento turbinado por gastos públicos numa economia em pleno emprego é fortemente inflacionário no médio prazo. Ele é insustentável, porque a remuneração do trabalho tem corrido muito mais rapidamente do que a produtividade do trabalho. Sempre que a gente tem uma trajetória de crescimento em que a produtividade do trabalho corre significativamente aquém da remuneração do trabalho, os problemas se avolumam à frente.
Perfil
Samuel Pessôa é doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP). Atual como professor assistente da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro (EPGE/FGV) e Chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE).
Já a Moody’s Corporation é uma renomada agência de classificação de risco criada em 1909 por John Moody, com sede em Nova York, EUA. Ela é responsável por avaliar a qualidade de crédito de empresas, governos e instituições financeiras, atribuindo notas que indicam a capacidade desses entes de honrar seus compromissos financeiros.