Lula (PT) desembarca hoje (23) na Argentina, em sua primeira viagem internacional após o retorno à presidência. Conforme agenda oficial, amanhã (24), o petista participa da 7ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), colegiado do qual o Brasil voltou a integrar após ter se retirado durante o governo de Jair Bolsonaro.
Também estão previstas para esta segunda-feira a assinatura de atos bilaterais e uma declaração conjunta à imprensa na Casa Rosada, sede do governo argentino. À tarde, ainda em Buenos Aires, Lula participa de encontro com empresários locais e se reúne com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
E no meio desses encontros, a expectativa é que Lula e Alberto Fernández retomem a discussão da criação de uma moeda única da América do Sul. A confirmação veio em um artigo escrito em comum para o jornal argentino ‘Portenho’, em que ambos defendem a proposta.
“Também decidimos avançar nas discussões sobre uma moeda sul-americana comum que possa ser usada tanto para os fluxos financeiros quanto comerciais, reduzindo os custos das operações e nossa vulnerabilidade externa”, diz o artigo.
A ideia de uma moeda comum foi mais uma vez levantada em um artigo escrito no ano passado por Fernando Haddad e Gabriel Galipolo, hoje ministro da Fazenda e seu secretário-executivo, respectivamente, e foi mencionada por Lula durante a campanha.
Lula escolheu a Argentina para sua primeira viagem internacional desde que assumiu o cargo, mantendo a tradição de visitar primeiro o maior parceiro comercial do Brasil na região.
No artigo, os dois também enfatizaram o desejo de “fortalecimento do bloco comercial do Mercosul”, que inclui Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. “Juntamente com nossos parceiros, queremos que o Mercosul constitua uma plataforma para nossa integração efetiva no mundo, por meio da negociação conjunta de acordos comerciais equilibrados que respondam aos nossos objetivos estratégicos de desenvolvimento”, afirmaram.
No sábado (22), o jornal financeiro Financial Times, da Inglaterra, também informou que os dois países anunciarão esta semana que estão iniciando os trabalhos preparatórios para uma moeda comum.
O plano se concentrará em como a será a nova moeda, que o Brasil sugere batizar com o nome de “Sul” ou “Sur”, se optarem pelo nome em inglês. Na visão dos líderes socialistas, a moeda poderia impulsionar o comércio regional e reduzir a dependência do dólar americano, informou o FT citando autoridades como fontes.
Políticos de ambos os países discutiram a ideia já em 2019, mas encontraram resistência do Banco Central do Brasil na época.
A tendência é que o projeto comece primeiro como um projeto bilateral entre Brasil e Argentina, sendo posteriormente estendido para convidar outras nações latino-americanas, disse o relatório, acrescentando que um anúncio oficial era esperado durante a visita de Lula à Argentina.
Decisão do Brasil
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, afirmou que a definição para que haja uma moeda única entre Brasil e Argentina depende do governo brasileiro. “Falamos com Lula da moeda única e eu o vi com muito entusiasmo, mas tive que ser franco e dizer que é uma decisão mais dele do que minha, eu já aceitei tomar a decisão”, declarou Fernández em entrevista ao “Canal Livre”, da Band, exibida na noite desse domingo (22).
Fernández destacou a importância do Brasil na economia da América Latina. “Seria muito bom para o intercâmbio comercial ter uma moeda única como referência para a região. Seria incrível. Seria um tipo de unidade de referência, de câmbio”, afirmou. “Lula está convencido, assim como eu, da necessidade de integração do continente. Ele acredita no Mercosul, como eu acredito”, declarou.
Gasoduto com dinheiro brasileiro
Na mesma entrevista, Fernández defendeu a criação do gasoduto de Vaca Muerta, que seria financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e empresas brasileiras. O presidente argentino deve tratar do tema no encontro com Lula na segunda-feira (24).
“O gasoduto Néstor Kirchner levará o gás desde Vaca Muerta até o centro de Buenos Aires e dali para todo o país. Nós queremos fazer um projeto similar, de aproximadamente 30 km, saindo do centro da região de Buenos Aires até Santa Fé, levando o gás até Uruguaiana e, dali, para o Brasil”, disse.
Esse financiamento acabou sendo revelado em dezembro, ainda durante o governo Bolsonaro, pela secretaria de energia da Argentina. A divulgação acabou gerando dúvidas sobre como ela poderia confirmar esse financiamento se nem a troca de governo ainda havia acontecido.
Fernández alega que o projeto também deve beneficiar o Brasil: “Temos muita capacidade de exportação de gás para o Brasil e queremos fazê-lo. Temos falado com o presidente Lula, e há a possibilidade desse 2º trajeto ser construído com financiamento pelo BNDES e com empresas brasileiras. O que mais quero é licitar e acabar o quanto antes”, completou Fernández.