Em seu editorial recente, a The Economist oferece uma análise detalhada sobre o impacto das políticas econômicas do presidente da Argentina, Javier Milei, destacando sua abordagem radical e libertária. O texto começa com uma referência a um experimento que, embora distante, oferece lições para o mundo inteiro.
“Javier Milei é presidente da Argentina há um ano. Ele fez campanha empunhando uma motosserra, mas seu programa econômico é sério e uma das doses mais radicais de medicina de livre mercado desde o thatcherismo”, afirma a publicação.
Milei tem sido uma figura polarizadora. Embora sua abordagem de mercado livre e redução do tamanho do Estado tenha sido elogiada por alguns setores, ela também gerou resistência interna. “A esquerda o detesta e a direita trumpiana o abraça, mas ele realmente não pertence a nenhum dos grupos”, destaca a Economist.
O impacto das reformas de Milei
A publicação observa que, ao assumir o cargo, Milei enfrentou uma economia profundamente fragilizada, com altos níveis de inflação e um Estado inchado. Seu governo focou na redução dos gastos públicos, com a implementação de cortes drásticos em diversos setores, incluindo a redução de ministérios e uma estratégia de austeridade fiscal.
Como resultado, a inflação mensal, que estava em 13%, foi reduzida para 3%, e a avaliação de risco do país melhorou consideravelmente. “Sua motosserra cortou os gastos públicos em quase um terço em termos reais, reduziu pela metade o número de ministérios e projetou um superávit orçamentário”, destaca o texto.
Ainda assim, a Economist reconhece os desafios enfrentados por Milei. O aumento da pobreza, que subiu de 40% para 53% no primeiro semestre de 2024, é uma consequência direta da austeridade imposta. “A austeridade causou um aumento na taxa de pobreza, que saltou para 53% no primeiro semestre de 2024, de 40% no ano anterior”, aponta a revista. A resistência crescente, especialmente da oposição peronista, também pode complicar os esforços de Milei para implementar reformas adicionais.
A filosofia por trás das políticas de Milei
O editorial destaca a filosofia de Milei, que vai além da simples implementação de medidas econômicas, e examina seu zelo quase religioso por mercados livres e liberdade econômica. Ele é descrito como um “verdadeiro crente em mercados abertos e liberdade individual”, com um “ódio ao socialismo” que permeia suas políticas.
“Ele promove o comércio com empresas privadas que não interferem nos assuntos domésticos da Argentina, incluindo os chineses”, observa a Economist. Esse comprometimento com a liberdade econômica, segundo a análise, é o que distingue Milei de outros líderes populistas.
Milei também se afasta do protecionismo, defendendo acordos comerciais sem imposições governamentais. Sua visão de “não intervir” nos mercados é um reflexo de seu estilo de governo, que prioriza a desregulamentação e a eliminação das burocracias excessivas. “Ele é um republicano de um pequeno estado que admira Margaret Thatcher — um exemplo messiânico de uma espécie em extinção”, conclui a Economist.
Desafios e lições para o mundo
Embora o primeiro ano de Milei traga sinais de progresso econômico, o editorial da Economist alerta sobre os riscos de suas políticas. A mudança para uma economia de mercado livre pode ser arriscada, e o presidente argentino ainda enfrentará grandes desafios ao tentar estabilizar a moeda e combater a inflação de maneira mais permanente. Além disso, a resistência interna e a oposição da classe política podem minar seu apoio popular. “O Sr. Milei pode ter dificuldades para governar se a resistência aumentar e a oposição peronista estiver melhor organizada”, observa a revista.
No entanto, a Economist também aponta as lições valiosas que o governo Milei oferece para o resto do mundo, especialmente em relação ao crescimento do estado e ao aumento da dívida pública global. O editorial observa que a dívida mundial cresceu de 70% do PIB há 20 anos para 93% atualmente, e que muitos países enfrentam dificuldades em controlar os gastos públicos. “A dívida é um flagelo não apenas nos países ricos, mas também na China e na Índia, que estão ambos com grandes déficits”, alerta a publicação.
O caso de Milei, com sua abordagem corajosa e coerente, oferece um exemplo de como a austeridade fiscal e a redução do tamanho do estado podem ser aplicadas em um cenário moderno, onde os governos estão cada vez mais dependentes de empréstimos e expansão da dívida. “Talvez a maior lição seja sobre coragem e coerência. Gostem ou não, as políticas do Sr. Milei se alinham entre si, o que amplia seu efeito”, conclui a Economist.
A ‘The Economist’ é uma publicação inglesa de notícias e assuntos internacionais de valor da The Economist Newspaper Ltd. e editada em sua sede na cidade de Londres, no Reino Unido. Está em publicação contínua desde a sua fundação por James Wilson, em setembro de 1843. Por razões históricas a The Economist refere-se a si mesma como um jornal, mas cada edição é impressa em formato de revista de notícias. Em 2006, a circulação média semanal da revista foi de cerca de 1,5 milhão de exemplares, cerca de metade dos quais foram vendidos nos Estados Unidos.
(Foto: reprodução redes sociais)
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