A equipe médica responsável pela cirurgia do ex-presidente Jair Bolsonaro avaliou como bem-sucedida a intervenção realizada no último domingo (13), em Brasília. No entanto, os médicos alertam que a recuperação será longa, exigirá cuidados intensivos e ainda não há previsão para sua saída da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A estimativa inicial é de pelo menos duas semanas de internação.
Segundo o boletim divulgado pelo hospital DF Star, onde Bolsonaro está internado, ele se encontra “clinicamente estável, sem dor, recebendo suporte clínico, nutricional e medidas de prevenção contra infecções”. No momento, ele está acordado, consciente e se alimentando exclusivamente por via intravenosa.
O cirurgião Cláudio Birolini, chefe da equipe médica, explicou que a cirurgia foi motivada por uma distensão abdominal persistente, que não regredia com tratamento clínico. “A cavidade abdominal do presidente é bastante hostil, resultado das cirurgias anteriores e da facada que sofreu em 2018. Foram necessárias duas horas apenas para acessar a parede abdominal. O intestino estava visivelmente comprometido, o que nos leva a crer que o quadro se arrastava há meses”, afirmou.
A operação durou cerca de 12 horas e consistiu em uma laparotomia exploradora, utilizada para investigar obstruções no trato intestinal. Os médicos diagnosticaram uma retenção do trânsito intestinal causada por aderências — faixas de tecido cicatricial que unem órgãos e dificultam o funcionamento do intestino.
Além de remover essas aderências, a equipe reconstruiu a parede abdominal, reforçando sua estrutura muscular. Não houve necessidade de transfusão de sangue, e o procedimento transcorreu sem intercorrências.
Apesar do sucesso da cirurgia, Birolini alertou que o pós-operatório será delicado e que novas aderências poderão surgir, o que é comum nesse tipo de situação. “As aderências vão se formar novamente. Isso é inevitável. A recuperação será lenta, e não temos intenção de apressá-la. A prioridade é preservar o intestino, que precisa de tempo para se desinflamar e retomar suas funções antes de qualquer alimentação oral”, declarou.
O cardiologista Leandro Echenique, também integrante da equipe, reforçou a complexidade do procedimento. “A cirurgia foi extremamente difícil. Havia muitas aderências, mas o desfecho foi excelente. Agora o foco é o monitoramento rigoroso no pós-operatório, principalmente para evitar infecções, tromboses e outros efeitos colaterais da resposta inflamatória do organismo”, explicou. Echenique reiterou que “não há sequer previsão para saída da UTI”.
Em meio à recuperação, um dos desafios citados pelos médicos é controlar a rotina agitada de Bolsonaro. “O presidente tem uma agenda intensa, com viagens frequentes. Vamos fazer o possível para mantê-lo em repouso pelo tempo necessário”, disse Birolini.
Na madrugada de segunda-feira (14), Michelle Bolsonaro publicou em suas redes sociais que o ex-presidente havia sido levado para o “quarto”. No entanto, os médicos esclareceram que ela se referia ao quarto da UTI, e não a uma mudança de setor hospitalar.
Ainda durante a coletiva de imprensa, Birolini explicou que Bolsonaro vinha relatando desconforto abdominal, sensação de estufamento e queixa de distensão há algum tempo. Segundo ele, o intestino estava praticamente imobilizado, o que caracteriza um quadro crônico.
“Ele apresentava sinais de sofrimento intestinal há meses, o que reforça a necessidade da cirurgia. Esperamos que não haja necessidade de uma nova intervenção nas próximas horas, mas seguimos em observação constante.”
O cirurgião também comentou sobre as chamadas “aderências bridas” — estruturas fibrosas que costumam surgir após cirurgias ou inflamações abdominais e que podem prender órgãos entre si.
Segundo ele, embora o problema não esteja completamente resolvido, a situação será avaliada caso a caso durante a recuperação. “Cada novo tecido de aderência será monitorado, e o tempo de recuperação será ditado pelo próprio organismo.”
Apesar da gravidade do quadro, os médicos disseram que Bolsonaro está consciente, em bom humor e até “fez uma piadinha” com os profissionais após a cirurgia.