No caso do assassinato da vereadora Marielle Franco, a investigação da Polícia Federal revelou a presença de um miliciano infiltrado no Psol, partido ao qual ela pertencia, com o objetivo de obter informações sobre sua atuação parlamentar.
O suspeito em questão, Laerte Silva de Lima, teria se filiado à sigla apenas 20 dias após o segundo turno das eleições de 2016. Além disso, ele seria o elo entre o deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Domingos Brazão, ambos presos preventivamente por suspeita de serem os mandantes do crime.
De acordo com a PF, Laerte foi detido no âmbito da operação ‘Intocáveis’, juntamente com outros suspeitos ligados ao grupo militar responsável pela exploração de serviços na região de Rio das Pedras. O relatório final da investigação ressalta o papel de Laerte como o intermediário entre os Brazão e a comunidade de Rio das Pedras, onde a família exercia influência eleitoral.
“Ademais, como visto em linhas recuadas, FININHO era o vínculo direto entre os BRAZÃO e a Comunidade de Rio das Pedras, área na qual a família era eleitoralmente soberana”, aponta a PF, no relatório final de investigação.
O relatório policial aponta que a infiltração de Laerte precedeu o interesse na morte de Marielle. Ele teria sido incumbido de realizar levantamentos sobre outros políticos do Psol antes mesmo do segundo semestre de 2017, indicando um possível interesse em retaliações por parte dos Brazão. No entanto, até aquele momento, essas pesquisas não haviam evoluído para além disso.
Segundo relatos, Domingos Brazão passou a mencionar os obstáculos que Marielle representava, especialmente em relação às áreas de influência dos Brazão, devido às ações de infiltração de Laerte. A PF levanta a possibilidade de que Laerte tenha exagerado ou mesmo inventado informações para justificar sua atuação como infiltrado, levando os irmãos Brazão a superestimarem as ações políticas de Marielle.
“Então, mencionou-se que, por conta de alguma animosidade, haveria um interesse especial da Vereadora em efetuar este combate nas áreas de influência dos BRAZÃO, dado que seria oriundo das ações de infiltração de LAERTE. Nesse momento, ponderou- se a possibilidade de que este poderia ter sobrevalorizado ou, até mesmo, inventado informações para prestar contas de sua atuação como infiltrado”, ressalta a PF.
Segundo os investigadores, nas palavras do ex-PM, Laerte poderia “ter enfeitado o pavão”, levando os irmãos ao equivocado superdimensionamento das ações políticas de Marielle Franco nesta seara.
“Deste modo, os elementos apresentados pelo discurso do colaborador podem ser sintetizados em duas questões primordiais: a suposta animosidade dos BRAZÃO com integrantes do PSOL, apontada por conta de levantamentos de políticos da legenda que teriam sido solicitados por MACALÉ, no interesse dos Irmãos, e a atuação de Marielle Franco junto a moradores de comunidades dominadas por milícias, notadamente no tocante à exploração da terra e aos loteamentos ilegais”, frisa a PF. (Foto: Câmara do Rio; Fonte: O Globo)