A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil gerou críticas à condução do governo brasileiro na crise comercial.
Para o diplomata Rubens Barbosa, que já representou o Brasil em Washington, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se antecipou ao responder publicamente, quando o mais prudente teria sido aguardar os desdobramentos oficiais.
“Em vista das declarações do presidente Trump sobre a promessa de mandar uma carta para o Brasil propondo novas tarifas, depois de dizer que o Brasil não estava sendo bom para os Estados Unidos, eu teria mais cuidado, teria mais precaução e não levaria a essa convocação, esperaria para ver o resultado dessa carta”, declarou Barbosa em entrevista ao UOL News. Ele alertou ainda que o atual cenário global, marcado por elevação generalizada de tarifas pelos EUA, pode trazer consequências sérias para a economia brasileira.
Segundo o ex-embaixador, até o momento o Brasil vinha sendo tratado com certa moderação no pacote de tarifas – com uma taxa prevista de 10%. No entanto, após as manifestações públicas do presidente Lula, Trump teria ganhado justificativa política para endurecer as medidas.
“Agora nós demos uma justificativa para o Trump aumentar essas tarifas, o que vai ser muito negativo, não só se houver esse aumento para o aço, para o alumínio, mas para todos os produtos de exportação brasileiro para os Estados Unidos.”
A medida norte-americana, que entrará em vigor no dia 1º de agosto, foi interpretada como uma retaliação velada ao posicionamento das instituições brasileiras em relação ao julgamento de Jair Bolsonaro. Barbosa disse não ter se surpreendido com o anúncio.
“Essa notícia não me surpreende. Eu achava que ia acontecer isso e por isso a gente deveria ter esperado a divulgação dessa notícia para reagir ao governo americano em relação à questão do Bolsonaro.”
O diplomata ainda ponderou que há espaço para negociação, dependendo do teor da comunicação enviada pelos Estados Unidos ao Brasil. “Se o Trump mandou a carta igual à que mandou para a Europa, para o Japão, para a Coreia, nós temos uma margem de negociação para a redução dessas tarifas.”
Para reverter ou suavizar os efeitos da nova tarifa, Barbosa defende o restabelecimento urgente do diálogo institucional entre os dois países. “Nós temos que reestabelecer, o ministro da Indústria e Comércio, o Itamaraty, vão ter que reestabelecer os canais de comunicação, porque com 50% de tarifa, nós não vamos exportar nada para os Estados Unidos.”
Embora o Brasil represente uma fatia pequena do comércio exterior dos EUA, o ex-embaixador destacou a importância da relação bilateral. “O Brasil não tem peso no comércio exterior americano, mas para nós os EUA são o segundo parceiro comercial.”
Por fim, Barbosa reforçou a necessidade de uma resposta ponderada por parte do governo Lula. “Eu acho que é uma situação muito delicada, e eu de novo repito a mesma coisa agora sabendo dessa informação. Eu acho que o Brasil tem que reagir com cautela, porque se reagirem ideologicamente, eles não vão ceder em nada desses 50%.” (Foto: reprodução vídeo; Fonte: UOL)
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