O JPMorgan ajustou sua estratégia para os mercados da América Latina, elevando a recomendação para o México de “neutro” para “overweight” (exposição superior à média do mercado) e reduzindo a do Brasil de “overweight” para “neutro”.
A equipe de estrategistas, liderada por Emy Shayo, justificou a mudança ao conceder ao México o “benefício da dúvida”, enquanto percebe uma continuidade sem novidades significativas no Brasil.
O relatório cita o filme ‘Dia da Marmota’, de 1993 estrelado por Bill Murray, em que o protagonista se vê acordando eternamente no mesmo dia – no Brasil, o nome foi ´O Feitiço do Tempo´. Para o JPM, esse é o sentimento em relação a temores com o fiscal no Brasil.
Os analistas apontam que a América Latina teve desempenho fraco neste ano, sendo a região com pior performance global. O Brasil e o México registraram quedas de 22% e 28%, respectivamente, acompanhadas por desvalorizações de 17% no real e no peso mexicano.
Fatores determinantes para a mudança de foco:
Contexto global mais favorável ao México:
O crescimento dos Estados Unidos beneficia diretamente o México, enquanto a desaceleração da China prejudica o Brasil. O banco projeta um crescimento de 2,2% no PIB dos EUA em 2025, enquanto a China deve desacelerar para 3,9%.
“O crescimento robusto nos EUA apoia o consumo mexicano por meio de remessas, enquanto o peso desvalorizado aumenta o poder de compra em dólares”, explicam os estrategistas. Já o Brasil pode enfrentar desafios com a queda nos preços das commodities devido à menor demanda chinesa.
Política monetária contrastante:
Enquanto o México segue cortando juros, o Brasil ainda enfrenta um ciclo de alta nas taxas. O banco central brasileiro deve elevar a taxa básica para 13% até meados de 2025. “Acreditamos que o Banco Central continuará subindo os juros até maio de 2025”, apontam. No México, ao contrário, a expectativa é de cortes que levariam a taxa para 9%. A influência das taxas no mercado mexicano, porém, é menor devido ao baixo volume de crédito disponível.
Cenário político e fiscal:
O México, com um governo novo, tem a oportunidade de implementar políticas eficazes. O orçamento da presidente Claudia Sheinbaum prevê reduzir o déficit fiscal de 6% para 3,9% do PIB até 2025. “Damos ao México o benefício da dúvida, mas acompanharemos de perto as reformas institucionais, que são o maior risco”, destacam.
“No Brasil, por outro lado, parece o Dia da Marmota (a dinâmica da dívida em relação ao PIB ainda não saiu do centro do palco). Durante os últimos dois anos, o mercado tem tido surtos de preocupação com o fiscal, então o governo faz algo para apaziguar o cenário até que uma manchete sobre o fiscal apareça novamente e algo mais precise acontecer”, avalia o JPMorgan.
Valuation atrativo e lucros estáveis:
Embora os preços estejam baixos tanto no Brasil quanto no México, o mercado mexicano apresenta uma posição mais barata em relação à média histórica, com dois desvios-padrão abaixo da média.
Outros mercados na América Latina
Além disso, o JPMorgan mantém recomendação positiva para o Chile, devido ao crescimento esperado de lucros e avaliações baratas. Já a Colômbia e o Peru permanecem com perspectivas menos otimistas devido a preços baixos do petróleo e avaliações apertadas. A Argentina segue no radar, principalmente pelo setor de energia, após melhorias nos indicadores econômicos. (Foto: EBC; Fontes: InfoMoney; FL Journal)