O parque industrial brasileiro envelheceu e não foi renovado. Uma pesquisa inédita da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que as máquinas e equipamentos industriais têm, em média, 14 anos, e 38% deles estão próximos ou já ultrapassaram a idade sinalizada pelo fabricante como ciclo de vida ideal. Os dados consideram as máquinas usadas na indústria extrativa e na indústria de transformação, sem contar os materiais de escritório e os equipamentos de transporte.
A pesquisa reforça que máquinas mais antigas afetam a competitividade das indústrias e exigem maiores custos de manutenção e gerenciamento da vida útil dos equipamentos – uma vez que tendem a ter mais problemas e falhas nas operações. Além disso, quanto mais próxima uma máquina está de esgotar sua vida útil, mais dificuldades surgem nos processos, como a de conseguir peças compatíveis para manutenção.
“Esse cenário de envelhecimento das máquinas e equipamentos revela a necessidade de adoção de políticas públicas que estimulem a renovação e atualização tecnológica do parque fabril brasileiro”, afirma a diretora de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, Lytha Spíndola. A economista lembra que o Plano de Retomada da Indústria, entregue pela CNI ao governo brasileiro, apresenta uma proposta de estímulo ao investimento por meio da depreciação acelerada – com objetivo de aumentar a produtividade da economia brasileira e acelerar o ritmo de crescimento econômico do Brasil.
A sondagem especial Idade e Ciclo de Vida das Máquinas e Equipamentos no Brasil foi realizada em junho e foram ouvidas 1.682 empresas das indústrias extrativa e de transformação e 356 empresas da indústria da construção.
Sem inovação
A gerente de Estratégia e Competitividade da CNI, Maria Carolina Marques, ressalta que a idade média do parque industrial é um dos determinantes da competitividade da indústria, pois sinaliza a capacidade de absorver inovações tecnológicas, a eficiência energética e a intensidade de emissões.
“Mesmo que seja possível reformar as máquinas e os equipamentos antigos para incorporar tecnologias digitais, como as tecnologias da Indústria 4.0, à medida que a defasagem aumenta o processo se torna mais desafiador e oneroso devido a incompatibilidades com novos sistemas operacionais”, explica a especialista da CNI.
A Indústria 4.0 busca integrar tecnologias avançadas à produção industrial, digitalizando os processos e proporcionando mais produtividade e eficiência às operações. Para se ter ideia, 12% do parque industrial brasileiro ainda é herança das décadas de 1980 e 1990, anteriores à ampla oferta de internet no Brasil.
A idade das máquinas e equipamentos industriais também afeta a eficiência energética – que diminui em função do uso de tecnologias menos avançadas. Assim, quanto maior a idade média do parque industrial, maior a quantidade de emissões de gases do efeito estufa do setor, devido ao aumento no consumo de energia elétrica e de combustíveis.
“A política industrial anunciada pelo governo, que visa a transformação digital da indústria e a descarbonização da economia, entre outros objetivos, deve considerar a idade média do parque industrial e como promover essa renovação”, diz a gerente.
Biocombustível ainda pior
Entre os setores da indústria de transformação com amostra suficiente para realização da análise, o setor de biocombustíveis se destaca com a maior idade média de máquinas e equipamentos, de 20 anos, seguido dos setores de metalurgia (18 anos) e de impressão e gravação (17 anos). Por outro lado, os equipamentos com menores idades médias estão nos setores de manutenção e reparação (10 anos), informática, eletrônicos e óticos (11 anos), couro (11 anos) e vestuário e acessórios (11 anos).
Da indústria de transformação, os setores que mais precisam renovar as máquinas e equipamentos – seja por estarem no limite do ciclo de vida recomendado pelo fabricante ou por já terem ultrapassado o limite – são os de metalurgia, com 52% de potencial de renovação; de manutenção e reparação, com 50%; e de veículos automotores, com 49%. Com menor potencial de renovação estão produtos diversos (24%), móveis (25%) e plástico (27%).
A indústria da construção tem idade média de máquinas e equipamentos de nove anos, menor do que as analisadas na indústria de transformação e na indústria extrativa.