Na última segunda-feira (20), uma carta assinada por gerentes e coordenadores de pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) veio à tona, revelando um ambiente de trabalho “deteriorado” dentro da instituição. Segundo o documento, as lideranças do órgão enfrentam “sérias dificuldades” para desempenhar suas funções. A revelação é da Folha de SP.
De acordo com o jornal, a carta faz uma série de acusações contra a administração do presidente Marcio Pochmann, destacando um novo episódio na crise que se prolonga desde setembro e que se intensificou no início deste ano.
“O clima organizacional está deteriorado e as lideranças encontram sérias dificuldades para desempenhar suas funções. Por isso, não vemos outro caminho senão solicitar o apoio da sociedade e a atenção das autoridades competentes para sanar a crise instaurada”, diz a carta do corpo técnico.
O documento começou a circular internamente no início da semana e já contava com mais de 130 assinaturas por funcionários de diversas áreas, incluindo assistentes e assessores. Em resposta, a presidência do IBGE reiterou, através de sua assessoria de imprensa à Folha de SP, o posicionamento emitido em um comunicado na semana anterior.
No referido comunicado de 15 de janeiro, a gestão rebateu as críticas feitas pelos servidores, afirmando que o IBGE estava avançando e acusando os questionamentos de serem baseados em “mentiras” sobre a instituição.
Por outro lado, os técnicos, em sua carta, apontam que a direção do órgão “com viés autoritário, político e midiático pela gestão Pochmann” é a principal causa da crise. “Sua gestão ameaça seriamente a missão institucional e os princípios orientadores do IBGE, na medida em que impõe a criação da Fundação IBGE+ como única alternativa às demandas por recursos financeiros para a realização das pesquisas e projetos que compõem nossa agenda de trabalho”, declaram.
A criação da IBGE+ é vista como o centro da controvérsia. Funcionários alegam que a fundação foi estabelecida sem transparência e sem a participação da equipe nas decisões, uma acusação que Pochmann contesta.
O estatuto da IBGE+ é criticado por possibilitar a realização de trabalhos para entidades privadas, sendo apelidada por alguns de “IBGE paralelo”.
“Nós, servidores do IBGE, assim como o sindicato, nos posicionamos firmemente em defesa do IBGE e de sua história, reivindicando a imediata paralisação dos trabalhos da controversa Fundação IBGE+, criada à nossa revelia, e a abertura de debates e consultas internas sobre seu futuro”, afirma a carta do corpo técnico.
A presidência criticou o que chamou de “ataques” de servidores, ex-funcionários e sindicatos, afirmando que tais grupos espalhavam “mentiras” sobre o instituto, gerando indignação entre os pesquisadores.
“A condução administrativa do Sr. Pochmann tem sido pautada por posturas autoritárias e desrespeito ao corpo técnico da casa, tendo culminado, em 15 de janeiro de 2025, na divulgação de um comunicado à sociedade para desferir ataque inaceitável à integridade ética dos servidores e de seu sindicato”, rebate a carta dos coordenadores e gerentes.
O comunicado da presidência também menciona “uma suspeição levianamente gerada sobre a possibilidade de manipulação de dados” e ameaça com ações judiciais contra a “desinformação e as mentiras”.
“Diferentemente do que diz o referido comunicado, os servidores nunca atacaram ou levantaram mentiras sobre o IBGE”, afirma a carta do corpo técnico.
“Ao contrário, somos absolutamente comprometidos com a qualidade das informações estatísticas e geocientíficas que produzimos até hoje. Os dados produzidos no IBGE seguem princípios e metodologias confiáveis e internacionais”, acrescenta a manifestação.
Pochmann foi nomeado para o cargo por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assumindo o comando do IBGE em agosto de 2023.
“O Sr. Pochmann também acusa os servidores de estarem contrariados pelo fim do regime remoto integral, devido a interesses particulares. Contudo, o desejo dos servidores é que o modelo de trabalho fosse devidamente discutido, levando em consideração a qualidade e o ganho de produtividade da instituição”, diz a carta dos coordenadores e gerentes.
“Pedimos que nossa experiência na gestão das áreas técnicas fosse escutada e isso não foi atendido”, completa o texto.
A tensão no IBGE aumentou ainda mais com a recente renúncia de dois diretores da DPE (Diretoria de Pesquisas) no início deste mês, supostamente devido a desacordos com a gestão de Pochmann. A carta dos coordenadores e gerentes expressa apoio aos diretores. E mais: Marcos Pontes responde Bolsonaro e fala em ‘arrogância’. Clique AQUI para ver. E clique AQUI para apoiar nosso trabalho. (Foto: EBC; Fonte: Folha de SP)