Governo paga juros recordes para se financiar e revive fantasma da crise de 2015

direitaonline

Há quatro meses, o governo federal tem vendido títulos da dívida pública com vencimento em cerca de dez anos a taxas reais — ou seja, descontada a inflação — superiores a 7%. O alerta foi feito em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, que compara o atual cenário com o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, quando juros nesse patamar antecederam o processo de impeachment.

Conforme o Estadão, “durante o segundo governo Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016, os juros ficaram nesse patamar durante seis meses em meio às crises política, econômica e institucional que desencadearam o impeachment da então presidente”.

Especialistas ouvidos pelo jornal apontam que a taxa elevada imposta pelo mercado revela desconfiança com o rumo fiscal do país. O indicador mais sensível tem sido o Tesouro IPCA (NTN-B) com vencimento em 2032.

“O papel foi vendido a uma taxa média real de 5,45% nos primeiros leilões do ano passado, atingiu 6% em abril e superou 7% no dia 3 de dezembro. Depois dessa data, só operou acima de 7%. No último dia 1º, o papel foi vendido a 7,84%”, diz a reportagem. Um título com vencimento em 2035 também refletiu a mesma tendência, sendo comercializado com rendimento médio de 7,57% em 8 de abril.

Segundo a reportagem, esse tipo de título é um termômetro confiável da percepção de risco do mercado em relação à condução das contas públicas. O aumento das taxas significa que o governo precisa pagar mais para se financiar, e isso gera um efeito cascata: eleva o custo da dívida pública, prejudica os investimentos e pressiona os juros em toda a economia.

“O índice é o preço pago diretamente pelo Tesouro e serve como referência para outros investimentos no mercado. Investidores privados costumam arcar com custos ainda maiores ao tomar empréstimos”, observa o jornal.

A combinação de déficit fiscal persistente com o descrédito em relação à estabilidade das regras preocupa os analistas. O economista José Bittencourt afirmou ao Estadão que, mesmo com o novo arcabouço fiscal, o impacto é tímido:

“o arcabouço fiscal tem potencial de aumentar o superávit das contas públicas em 0,2% ao ano; se o governo não tivesse déficit – e hoje tem –, o Brasil ainda levaria 13 anos para atingir um resultado que estabilizasse o endividamento público”.

O atual nível de endividamento gira em torno de 76% do PIB. Procurados pela reportagem, nem o Tesouro Nacional nem o Ministério da Fazenda comentaram o cenário.

A última vez em que o mercado reagiu com tamanha desconfiança em relação à dívida brasileira foi justamente no auge da crise de governabilidade entre 2015 e 2016.

Naquele período, lembra o Estadão, “as taxas médias para títulos semelhantes efetivamente vendidos pelo Tesouro Nacional ficaram acima de 7% entre agosto de 2015 e fevereiro 2016, caindo apenas no mês seguinte, quando o mercado avaliou que o impeachment contra a então presidente seria aprovado no Congresso Nacional”. E mais: Defesa de Filipe G. Martins desabafa sobre decisões de Moraes: ‘é pessoal’. Clique AQUI para ver. (Foto: Palácio do Planalto; Fonte: Estadão)

Gostou? Compartilhe!
Next Post

Montadora leva multa pesada por não cumprir cota de 'aprendiz'

O TST, por unanimidade, condenou a Peugeot-Citroën do Brasil Automóveis Ltda. ao pagamento de R$ 500 mil por reiterado descumprimento da cota legal de aprendizes conforme previsto no art. 429 da CLT. A Corte reconheceu que a conduta da empresa violou direitos coletivos e difusos ligados à profissionalização de adolescentes […]