Dois ex-assessores do deputado André Janones (Avante-MG), que denunciaram um esquema de rachadinha em seu gabinete, realizaram uma inusitada homenagem ao deputado Guilherme Boulos (PSol-SP). A ação ocorreu após Boulos propor o arquivamento da representação contra Janones no Conselho de Ética da Câmara.
“Guilherme Boulos, que é o relator do processo de cassação do Janones, votou pelo arquivamento. Então, em comemoração a isso, vamos distribuir bolos e danones. Fabrício, o primeiro pedaço é seu. Mas, antes, [vamos dividir] fifty-fifty. Rachadinha”, declarou Cefas Paulino, um dos denunciantes, em vídeo. Ele interagiu com Fabrício Ferreira, outro ex-assessor do deputado denunciado.
A dupla distribuiu fatias de bolo e copos de iogurte a transeuntes no centro de Ituiutaba (MG), reduto eleitoral de Janones, que foi o segundo parlamentar mineiro mais votado em 2022.
❗️Dois ex-assessores de André Janones (Avante-MG) que denunciaram um esquema de rachadinha no gabinete do deputado decidiram “homenagear” Guilherme Boulos (PSol-SP). Isso porque o psolista propôs o arquivamento da representação contra o parlamentar mineiro no Conselho de Ética da… pic.twitter.com/GRHUlaYN50
— Metrópoles (@Metropoles) May 16, 2024
Adiamento
Um pedido de vista coletiva adiou a votação da representação preliminar contra Janones (Avante-MG) no Conselho de Ética da Câmara. Janones é acusado pelo PL de ter quebrado o decoro parlamentar porque teria realizado a prática de rachadinha, esquema de desvio de parte dos salários de assessores no gabinete do parlamentar. Com isso, o processo retornará para a pauta do colegiado na próxima semana.
O processo foi instaurado a partir de representação do PL, baseada em áudios do parlamentar, publicados na imprensa, solicitando o repasse de parte dos salários dos funcionários lotados em seu gabinete para ajudar a cobrir despesas de campanhas eleitorais. Um inquérito para apurar as denúncias corre no Supremo Tribunal Federal (STF).
O relator da representação, Guilherme Boulos (PSOL-SP), apresentou parecer pelo arquivamento do processo com o argumento de não haver justa causa entre os fatos narrados e a quebra de decoro, em razão de ter ocorrido em 2019, antes do atual mandato de Janones.
É inadmissível não cassar o Janones diante de algo tão consistente como a grave e irrefutável gravação divulgada. É um péssimo exemplo de impunidade a denegrir ainda mais a imagem da classe política.
— Ricardo Salles (@rsallesmma) May 17, 2024
O deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB) também pediu vista e argumentou que o caso só não prosperou na legislatura anterior, quando Janones foi eleito pela primeira vez deputado federal, porque não era de conhecimento público. “Não tinha conhecimento, só foi ter conhecimento quando ele já estava no seu segundo mandato de deputado federal”, disse.
Boulos contra-argumentou e citou matéria alegando que já havia reportagens tratando da questão desde o ano de 2021. “O ponto central da sua argumentação era de que o público só tomou conhecimento disso nesta legislatura. Eu tenho aqui matérias de 2021 e de 2022 já ‘publicizando’ essa questão. Não foi um fato novo que eventualmente teria traído o voto daqueles que elegeram o deputado Janones. Quem vai averiguar se ele cometeu ou não o crime, quem vai averiguar isso é a Justiça”, argumentou.
Defesa
Em sua defesa prévia, Janones disse que a representação é fruto de perseguição política, baseada em “supostas denúncias” e que os denunciantes afirmaram nunca terem participado de vaquinha ou forçados a devolver salários.
“As acusações de rachadinha foram feitas com base em um áudio editado e descontextualizado, não de um parlamentar com seus assessores, mas de um grupo político que visava se fortalecer para disputar as eleições. Não se tratava de devolver salários, mas de contribuições espontâneas, com a participação do parlamentar, sem quaisquer obrigação ou valores definidos, como fica claro no áudio apresentado, e que nunca chegou a acontecer, como afirmado pelo próprio denunciante”, explicou.