O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin validou nesta sexta-feira (17) a declaração de entrega voluntária do cidadão russo Serguei Vladimirovich Cherkasov, suspeito de integrar uma organização criminosa que atuava com tráfico de drogas.
O russo, que está preso no Brasil desde outubro do ano passado, também é acusado no Brasil de uso de documento falsificado e investigado por atos de espionagem, lavagem de dinheiro e corrupção.
Conforme a decisão, apesar de ter se voluntariado para responder às acusações de tráfico na Rússia, Serguei Vladimirovich Cherkasov só deve voltar ao país de origem após o fim das apurações sobre os supostos crimes cometidos no Brasil.
O STF recebeu o pedido de extradição da Rússia (EXT 1755) com base no tratado assinado entre os dois países. Após a prisão dele para fins de extradição, o próprio acusado admitiu os crimes e manifestou interesse na extradição voluntária para a Rússia.
A Procuradoria-Geral da República opinou pela validação da entrega voluntária, mas pleiteou que ele permanecesse no Brasil até a conclusão de processo em andamento no Estado de São Paulo, no qual ele foi condenado por uso de documento público falsificado. Além disso, a investigação foi ampliada para apurar possíveis atos de espionagem, lavagem de dinheiro e corrupção, e seguem em andamento uma série de medidas investigativas.
Ao analisar o caso, o ministro Fachin lembrou que a Segunda Turma do STF entendeu ser possível decisões individuais de extradição quando o próprio acusado, ‘devidamente assistido por advogado ou defensor’, consinta com o envio ao país de origem.
Por isso e por considerar que o processo preencheu todos os requisitos legais – o crime não havia sido indultado e nem estaria prescrito, por exemplo -, homologou a declaração de entrega voluntária.
Segundo o ministro, o cidadão russo praticou crimes comuns, sem indícios de que tenha sido perseguido por questões raciais, religiosas ou políticas. “Inexistem razões sólidas que tornem plausível a hipótese de que o cidadão reclamado possa ser subjugado a atos de perseguição e/ou discriminação em decorrência de raça, religião, sexo, nacionalidade, língua, condição social e/ou pessoal, tampouco se antevendo evidências concretas de que a sua situação jurídica venha a ser agravada por quaisquer desses elementos.”
O ministro Fachin também ponderou que diligências e medidas investigativas estão em andamento em São Paulo, o que impede a extradição imediata. “À luz desse panorama, a extradição será executada após concluídas as apurações e processos relativos aos fatos delituosos de competência da Justiça brasileira.”
Também acrescentou que, após a extradição, a Rússia deve observar todos os compromissos diplomáticos previstos, como o de limitar o tempo máximo de 30 anos de prisão previsto em lei e não decretar pena de morte. Na decisão, o ministro manteve a prisão do acusado em razão das investigações que ainda correm em São Paulo.
Histórico
A Justiça Federal, em São Paulo, condenou, em 2022, Sergey Vladimirovich Cherkasov, de 36 anos, a 15 anos de prisão. Ele foi apontado por autoridades holandesas e brasileiras como um espião russo que tentava entrar com identidade brasileira para um estágio no Tribunal Penal Internacional, em Haia. Cherkasov e seus advogados negam as acusações. Ele está detido na Penitenciária Federal de Brasília desde o fim de janeiro deste ano.
Curiosamente, nessa semana, o presidente russo Vladimir Putin foi condenado nessa mesma instituição internacional.
De acordo com as investigações da Justiça, o russo usava a identidade de um cidadão brasileiro de nome Viktor Muller Ferreira, de 33 anos. Cherkasov foi preso em abril na Holanda e deportado para o Brasil.
Segundo o “The Guardian”, o espião, na verdade, faz parte de um programa da Rússia de “ilegais”, um esquema do governo russo que existia na época da Guerra Fria e foi restaurado por Vladimir Putin pelo qual os agentes criam uma identidade falsa em um novo país.
Segundo o MPF, por dez anos, entre 2012 e 2022, Cherkasov entrou e saiu do Brasil como um cidadão local por 15 vezes, sempre pelos aeroportos internacionais de Guarulhos (SP) ou do Galeão (RJ).
A primeira vez foi 2010, ainda com a sua documentação original. Quando sai do país, ele já embarca usando os documentos em nome de Viktor Ferreira. Segundo as autoridades holandeses, ele queria entrar na sede do Tribunal Penal Internacional para investigar supostos crimes de guerra cometidos na Ucrânia. Segundo reportagem do Fantástico do ano passado, ele chegou a fazer aulas de forró quando estava no Brasil.