O Estadão publicou nesta quarta-feira, 16, um editorial no qual critica duramente a atuação recente de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente em relação à participação de magistrados em eventos privados patrocinados por grandes empresas.
O jornal diz que já foi um dos maiores defensores da Corte durante o governo de Jair Bolsonaro, afirma que atualmente “está muito difícil defender o Supremo Tribunal Federal”.
“(O jornal) esteve na vanguarda do apoio ao Supremo quando a Corte, de modo destemido, ajudou a desbaratar o golpismo que foi urdido pelos inconformados com a democracia durante o tenebroso mandato de Jair Bolsonaro na Presidência.
No entanto, o texto ressalta que “hoje já não há mais ameaça que justifique a excepcionalidade hermenêutica e moral que alguns dos ministros parecem reivindicar”, comparando-os a deuses olímpicos que se colocam acima do bem e do mal, uma postura considerada “indefensável”.
O Estadão direciona críticas especialmente ao presidente do Supremo, ministro Luís Roberto Barroso, que recentemente defendeu sua presença e a de seu colega, ministro Dias Toffoli, em um evento empresarial em Roma, patrocinado pela JBS.
Segundo o jornal, a mulher de Toffoli, Roberta Rangel, advoga para a J&F, controladora da JBS, e o próprio ministro já tomou decisões que beneficiaram diretamente os irmãos Joesley e Wesley Batista, proprietários da empresa. “É esse tipo de comportamento que de fato torna urgente ‘discutir o Brasil’ – e não precisa ser em Roma ou alhures, pode ser aqui mesmo”, diz o editorial.
Ao se defender das críticas, Barroso afirmou que os ataques seriam motivados por “preconceito contra a iniciativa privada”. O jornal paulista rebate essa declaração, ressaltando que sempre foi um entusiasta do setor privado, mas que “ao mesmo tempo, é empedernido defensor da distinção entre o público e o privado, exatamente para que não haja contaminação de interesses privados na tomada pública de decisões”. O texto denuncia que eventos como o de Roma promovem a aproximação entre empresários com causas no Judiciário e juízes que podem julgá-las, criando um ambiente de desconfiança.
O editorial vai além e acusa Barroso de estar desconectado da realidade do país e das expectativas da sociedade: “A fala do sr. Barroso recenderia a cinismo não fosse mais uma mostra de quão descolado o presidente do STF parece estar da realidade do País e, principalmente, daquilo que a sociedade espera do chefe do Poder Judiciário”.
Por fim, o Estadão aponta duas possíveis soluções para a crise de confiança que, segundo o jornal, assola o Supremo Tribunal Federal. A primeira seria a contenção do STF por meio de Propostas de Emenda à Constituição e projetos de lei que estão sendo discutidos no Congresso. Contudo, a publicação vê essa alternativa com preocupação, pois poderia politizar ainda mais a atuação da Corte, gerando resultados indesejados e perigosos.
A segunda opção, considerada ideal pelo editorial, seria a autocontenção dos próprios ministros. O problema, segundo o jornal, é que para que isso aconteça, os membros do STF precisariam primeiro reconhecer que erram, algo que não tem sido demonstrado até o momento.
“Por ora não há sinal de que Suas Excelências deixaram de confundir a toga que vestem com a Égide de Atena”, conclui o editorial, em referência à deusa da justiça na mitologia grega. Clique AQUI para ver na íntegra. E mais: Moraes ordena extradição de envolvidos ‘8 de janeiro’. Clique AQUI para ver. (Foto: STF; Fonte: Estadão)
